quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Vitória do "NÃO" na Venezuela é benéfico para Chavez

Não podia deixar de comparitilhar esta:
«Moniz Bandeira diz que referendo comprova democracia no país» Eu, Gonçalves Matsinhe, concordo com ele.

A derrota do presidente da Venezuela Hugo Chávez no referendo sobre areforma constitucional no último domingo foi importante para o próprio lídervenezuelano, por mostrar, antes de mais nada, que a democracia funciona emseu país.

A observação foi feita nesta terça-feira pelo cientista político,historiador e professor emérito da Universidade de Brasília, Luiz AlbertoMoniz Bandeira, em entrevista à Agência Informes. "O presidente Chávez ganhou, porque, perdendo, salvou seu governo de uma situação cada vez maisdifícil, em virtude da fratura social e política existente na Venezuela", disse Moniz Bandeira.

Outro significado importante do "não" à mudança constitucional venezuelana é a facilitação do ingresso da Venezuela no Mercosul, pois,na opinião deMoniz Bandeira, destruiu-se o argumento de que o regime de Chávez é ditatorial e contraria a cláusula democrática do bloco. "E a entrada daVenezuela é demasiadamente importante para a expansão do Mercosul e o avançoda união de nações da América do Sul"

Portanto, nem sempre as derrotas são más.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Discurso do PR Francês - "Vou reabilitar o trabalho!"

Recebi por email e não resisto em compartilhar aqui. Será isto apenas válido na França?

Derrotamos a frivolidade e a hipocrisia dos intelectuais progressistas. O pensamento único é daquele que sabe tudo e que condena a política enquanto a mesma é praticada.

Não vamos permitir a mercantilização de um mundo onde não há lugar para a cultura: desde 1968 não se podia falar da moral. Haviam-nos imposto o relativismo.

A idéia de que tudo é igual, o verdadeiro e o falso, o belo e o feio, que o aluno vale tanto quanto o mestre, que não se pode dar notas para não traumatizar o mau estudante.

Fizeram-nos crer que a vítima conta menos que o delinqüente. Que a autoridade estava morta, que as boas maneiras haviam terminado. Que não havia nada sagrado, nada admirável.

Era o slogan de maio de 68 nas paredes de Sorbone: 'Viver sem obrigações e gozar sem trabalhar'.Quiseram terminar com a escola de excelência e do civismo. Assassinaram os escrúpulos e a ética.


Uma esquerda hipócrita que permitia indemnizações milionárias aos grandes executivos e o triunfo do predador sobre o empreendedor.Esta esquerda está na política, nos meios de comunicação, na economia.

Ela tomou o gosto do poder. A crise da cultura do trabalho é uma crise moral. Vou reabilitar o trabalho.

Deixaram sem poder as forças da ordem e criaram uma farsa: 'abriu-se uma fossa entre a polícia e a juventude'. Os vândalos são bons e a polícia émá. Como se a sociedade fosse sempre culpada e o delinqüente, inocente.

Defendem os serviços públicos, mas jamais usam o transporte coletivo. Amam tanto a escola pública, e seus filhos estudam em colégios privados. Dizem adorar a periferia e jamais vivem nela.

Assinam petições quando se expulsa um invasor de moradia, mas não aceitam que o mesmo
Se instale em sua casa. Essa esquerda que desde maio de 1968 renunciou o mérito e o esforço, que atiça o ódio contra a família, contra a sociedade e contra a República.

Isto não pode ser perpetuado num país como a França e por isso estou aqui. Não podemos inventar impostos para estimular aquele que cobra do Estado sem trabalhar. Quero criar uma cidadania de deveres.

“Primeiro os deveres, depois os direitos."

Nicolas Sarkozy
presidente da França

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Outra vez o Zimbabwe e Mugabe!


Este é um texto do Prof. Elísio Macamo publicado no notícias de hoje. É interessante.


Outra vez o Zimbabwe e Mugabe!


A QUESTÃO zimbabweana é simplesmente chata. A prova disso é a tendência de polarização que ela provoca entre nós. O Primeiro-Ministro britânico, Gordon Brown, anunciou que não iria participar na Cimeira UE-UA se Robert Mugabe, que está proibido de pôr os pés na Europa, for convidado a participar. Ao invés de se aceitar essa decisão soberana do líder político britânico e deixar as coisas por aí, isto é, ignorando a chantagem grosseira que ele faz a Portugal – anfitrião da cimeira – e aos chefes de Estado africanos, despoletou-se uma controvérsia que ameaça inviabilizar o encontro. Uns dizem que Robert Mugabe não deve ser convidado e outros dizem que deve, sim senhor. O nosso Governo já disse publicamente que se Mugabe não for convidado, não vai participar. Acho esta decisão sensata. É sobre as suas implicações, contudo, que gostaria de reflectir.


O problema do Zimbabwe não é apenas chato; é bicudo. Há muitos anos que o país está à deriva com uma boa dose de responsabilidade para Robert Mugabe e seus camaradas da ZANU-FP. Na verdade, após um início auspicioso da reforma latifundiária que viu, por exemplo, o Zimbabwe a transferir mais terra para os africanos negros nos primeiros dez anos de independência do que é o caso na África do Sul ou na Namíbia – e sem violência – a partir de um certo momento Mugabe perdeu o controlo da situação e fez recurso à violência e ao desrespeito total da ordem democrática para enfrentar os problemas que foram surgindo. A reacção da comunidade internacional, sobretudo da Grã-Bretanha, ao invés de pautar pelo comedimento necessário para evitar o pior, fez tudo para que Mugabe se radicalizasse e tivesse espaço suficiente para argumentar com muito sucesso no seio de muitas mentes africanas que o Zimbabwe trava uma batalha decisiva contra a recolonização de África. O hábito europeu de procurar demónios para explicar os problemas africanos simplesmente piorou a situação. As sanções aplicadas insensatamente ao Zimbabwe têm contribuído decisivamente para dar conforto a Mugabe na sua crença messiânica, reforçar a suspeita de cinismo e duplicidade na atitude europeia em relação aos negros e piorar as condições de vida daqueles a quem se pretende ajudar.

A natureza bicuda do problema emperra o nosso próprio debate. Em Moçambique existem basicamente duas posições em relação ao Zimbabwe, ambas legítimas, mas dificilmente adequadas para a formulação de uma política diplomática coerente. A primeira é dos que acham que o problema do Zimbabwe é Mugabe. Estes não reconhecem que mesmo quem não ache que o problema do Zimbabwe seja Mugabe pode estar, mesmo assim, interessado na solução do problema. Esta posição anti-Mugabe alimenta-se da ideia de que há um conluio de chefes de Estado africanos com credenciais democráticas duvidosas que pauta pela inacção como forma de não trair amizades históricas que já não são relevantes para o presente. Abro um parêntesis para deixar registada a minha opinião pessoal de que não percebo porque honrar o grande apoio que Mugabe deu a Moçambique durante a guerra da Renamo constitui um problema. Só quem se se esqueceu ou não viveu a experiência de ir à escola com o ouvido nas sirenes para procurar abrigo antiaéreo contra os “mirages” rodesianos é que pode abanar a cabeça perante esta dívida de gratidão. Para estes, a solução do problema zimbabweano passa pela diabolização de Mugabe e pela recusa dos africanos de continuarem a apoiá-lo. É esta posição que não percebe porque o Governo moçambicano se recusa a ceder à chantagem britânica.


A segunda posição é dos que acham que o problema zimbabweano é o legado colonial consubstanciado nas vantagens estruturais que os zimbabweanos brancos gozam. Os defensores desta posição adoptam o discurso racista de Mugabe para acusar os seus adversários de estarem a ser porta-vozes do neocolonialismo europeu. Esta posição procura a sua coerência nos diferentes pesos que os europeus utilizam para abordar problemas idênticos. Assim, faz-se um recuo histórico e pergunta-se porque os europeus e americanos resistiram tanto às sanções contra o regime do apartheid e hoje, sem pestanejarem, aplicam-nas ao Zimbabwe governado por negros. Para estes a solução do problema passa pelo fim da interferência europeia e pela solução do problema da distribuição injusta da riqueza naquele país. O problema aqui, contudo, é de se esquecer que a desigualidade a favor dos brancos é apenas um aspecto das desigualidades naquele país. Mesmo no seio da população negra há uma distribuição desigual da renda que levanta, inclusivamente, o espectro de maiores problemas para o Zimbabwe mesmo após o fim das vantagens para os brancos.


POSIÇÕES QUE NÃO AJUDAM


Eu acho que a procura de uma solução para o problema zimbabweano não passa necessariamente pela aceitação de uma das duas posições. Ambas são ideológicas e não melhoram a sua plausibilidade agregando factos. Por exemplo, um dos cânticos da primeira posição consiste em repetir religiosamente a crença segundo a qual os farmeiros brancos seriam agricultores exímios e teriam sido o garante da segurança alimentar e da robustez da agricultura daquele país. A realidade é bem diferente, começando pelo facto histórico de que este é o argumento que foi usado pelo Governo minoritário para roubar a terra dos africanos. Na verdade, é um dado histórico assente que quando a terra foi dada a farmeiros brancos na sequência da perfídia de Cecil Rhodes nos finais do século XIX, os agricultores negros estavam a registar sucessos no abastecimento do mercado. Eles perderam a terra para serem transformados em mão-de-obra nas fazendas dos brancos e nas indústrias nos centros urbanos.


A despossessão é que quebrou a produtividade da agricultura africana. Não nos esqueçamos que mesmo em Moçambique temos uma história quase idêntica. Os grandes êxitos de exportação agrícola no tempo colonial não dependiam apenas das grandes companhias. Dependiam da produção campesina que era comprada em regime monopolista pelas companhias. Em relação à agricultura zimbabweana branca acresce-se o facto de que o seu sucesso estava limitado ao tabaco – lembram-se dos discursos de Samora Machel contra o “tabagista” Ian Smith? – e ao milho, único comestível que abastecia abundantemente o mercado interno e ainda sobrava para a exportação.


No fundo, contudo, não é a eficiência “branca” que está por detrás do sucesso da agricultura zimbabweana, mas a estrutura de incentivos e apoio à actividade agrícola. Joseph Hanlon, o académico britânico, mostrou numa análise interessante dos farmeiros brancos em Manica que, afinal, é esta estrutura de incentivos e apoio que explica a sua “eficiência” e não, como o cântico sugere, uma espécie de superioridade natural branca no trabalho produtivo. A falta destes incentivos para os farmeiros brancos em Manica está a comprometer o seu trabalho. Alguém ainda se lembra da Mosagrius? Temos paisagens florescentes em Niassa em resultado da presença dos “produtivos” farmeiros brancos sul-africanos? Quantos ainda estão lá na ausência desta estrutura de incentivos e apoio à agricultura? Agora, é um facto que a política de Mugabe contribuiu grandemente para o desmoronamento desta estrutura. Contudo, justamente porque a nossa atenção está presa ao demónio do Mugabe não temos tempo para ter em consideração toda a conjuntura zimbabweana.


Na verdade, Mugabe foi até certo ponto vítima do seu próprio sucesso. A política que ele seguiu logo após a introdução do sufrágio universal no Zimbabwe de retificar os desequilíbrios coloniais distribuíndo terras aos zimbabweanos negros colocou enormes pressões sobre esta estrutura de incentivos e apoio. Por razões que nós os moçambicanos devíamos sobejamente conhecer, o Zimbabwe teve enormes dificuldades em responder adequadamente às exigências que surgiram com a correcção dos desequilíbrios. O excelente livro de Ruth First e colaboradores no Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane com o título “O Mineiro Moçambicano” dá conta de problemas idênticos na execução da política agrária da Frelimo. A política do Governo criou novos grupos de interesses, novas situações socioeconómicas e pôs, como é evidente, posições adquiridas em risco. A redução de mão-de-obra moçambicana na África do Sul criou um exército de desempregados – uma situação pouco estudada entre nós – que passou a ser um factor decisivo não assumido do sucesso ou falhanço da política de socialização do campo, adoptada pela Frelimo. O Zimbabwe passou por uma situação semelhante com a agravante de que o governo nunca conseguiu ter clareza sobre os objectivos gerais da sua intervenção. Na verdade, o que é interessante na situação actual do Zimbabwe não é o facto de Mugabe ter “destruído” as boas coisas que os brancos deixaram; o que é interessante é ele ter conseguido manter por tanto tempo!


Este último ponto vai para os que vêem o problema apenas na óptica da injustiça colonial. Com efeito, a apresentação do problema latifundiário no Zimbabwe como sendo um problema de desequilíbrio favorável aos brancos na distribuição da terra corresponde à ideia errada que Mugabe passou a ter do problema quando a sua política falhou e o Governo de Tony Blair não teve a sensatez diplomática de analisar com cuidado antes de o hostilizar. Já durante o Governo minoritário de Ian Smith tinha sido iniciada uma política de distribuição de direito de uso e aproveitamento da terra aos negros – ainda que longe dos rios – mas em fazendas com proprietários brancos. Mugabe continuou com esta política, mas a sua aplicação foi sempre problemática. Existem vários estudos que dão conta de como estes programas de distribuição de terras foram criando, eles próprios, uma larga classe de sem-terras em resultado da própria ineficiência dos programas. E mesmo aqueles que receberam terras, cedo se aperceberam de que a terra, sem incentivos e apoio, não valia nada. Os mais de 3500 trabalhadores agrícolas negros não estavam tão interessados na terra quanto na segurança dos seus empregos. Entretanto, o imaginário político zimbabweano estava tão preso à ideia de que a Chimurenga tinha como objectivo devolver a terra aos negros que nenhum actor político zimbabweano, começando pelo próprio Mugabe, foi capaz de manter frieza suficiente para ver a verdadeira natureza do problema que tinha em mãos. Optou pelo mais fácil que era responsabilizar os brancos pelas dificuldades. A procura de bodes expiatórios tem uma história muito longa na política.


NEM MUGABE, NEM OS BRANCOS SÃO O PROBLEMA


Portanto, o problema zimbabweano é demasiado complexo para ser reduzido às fórmulas que alguns de nós repetimos irreflectidamente. Mugabe não é o problema do Zimbabwe da mesma forma que os farmeiros brancos também não são. Mas também nenhum deles é a solução. A solução – agora estou a escrever como sociólogo – é algo para o qual um grande académico ugandês, Mahamood Mamdani, havia chamado atenção em tempos num livro com o título “Cidadão e Súbdito”. Mamdani criticava nesse livro a crença bastante espalhada de que a África do Sul, a Namíbia e o Zimbabwe constituíam excepções à regra colonial em África. Ele dizia, com efeito, que na verdade os três países representavam o cúmulo do sistema colonial. Esses três países eram a realização do que o regime colonial teria sido em todos os outros países africanos se a história tivesse seguido o rumo correspondente à lógica estrutural do colonialismo.


Considero esta ideia de Mamdani central à qualquer procura de solução para o problema zimbabweano. Na verdade, o problema zimbabweano é mesmo o problema do legado colonial e do que é necessário fazer para corrigir os seus defeitos.


O Zimbabwe apresenta-nos a história trágica da tentativa de correcção de injustiças estruturais num contexto político marcado, por um lado, pela existência de discursos que ajudam os actores políticos a apreenderem o mundo e, por outro lado, pela natural dificuldade de formar e manter o Estado como instrumento de intervenção na sociedade. O discurso racial, de ambos os lados, tem contribuído bastante para desviar a atenção do que é verdadeiramente essencial na situação zimbabweana. Ao mesmo tempo, porém, a fragilidade das estruturas estatais – fragilidade que nós conhecemos muito bem em Moçambique – não nos permite abordar os problemas estruturais a nível em que os devíamos abordar e, para piorar as coisas, quando falhamos olvidamos isso e passamos para a retórica. Pessoalmente, não nutro muita simpatia pela diabolização de Mugabe, embora ele não represente exactamente a ideia de herói que eu tenho. O problema da sua diabolização reside no facto de que esquecemos que qualquer desculpa serve para evitar abordar problemas. E quando as desculpas têm espaço de afirmação na sociedade, não é necessário nenhum demónio para que haja violência. Mais uma vez, a nossa história constitui um espelho.


A reflexão já vai longa. O nosso Governo faz bem em dizer não aos britânicos. E enquanto não tiver uma ideia clara de como ajudar os zimbabweanos pode ganhar tempo com iniciativas para, literalmente, o inglês ver buscando inspiração, por exemplo, no “engajamento construtivo” americano dos anos oitenta. Não obstante, é imperioso elaborar uma política coerente de abordagem do problema zimbabweano. Precisamos de cenários e de ideias osbre como reagir a esses cenários. Por exemplo, mesmo agora coloca-se a pergunta de saber que política está por detrás da situação actual, sobretudo nas províncias fronteiriças com grandes afluxos de zimbabweanos e a dominação do comércio informal por eles. Precisamos de saber como vamos reagir a uma guerra civil naquele país. Precisamos de saber como vamos tirar partido da melhoria da situação no Zimbabwe. Enfim, precisamos de uma política coerente. Temos muito interesse em fazer isso, pois mesmo sem considerar os problemas criados pelos refugiados – brancos e pretos – no nosso seio, o problema zimbabweano é um problema que diz respeito a qualquer sociedade pós-colonial. A história está a utilizar os pobres dos zimbabweanos como palco provavelmente da batalha final contra o colonialismo. E aqui não estou a falar como os que vêem o assunto zimbabweano como uma questão de defesa da África contra o neocolonialismo. Estou a falar como alguém que está preocupado com os desafios que nos são colocados pelo legado histórico nos nossos esforços de emancipação económica e social.


O ex-presidente Chissano é citado como tendo dito que a cimeira é uma oportunidade para o diálogo. Ele tem razão. O problema, contudo, é saber qual será a agenda desse diálogo. É evidente que, por enquanto, não há nada que os europeus possam conversar com Mugabe. Contudo, há muito que nós os africanos podemos conversar com ele. E temos que conversar com ele para o nosso próprio bem, para o seu próprio bem e, acima de tudo, para o bem da maioria do povo zimbabweano feito peão da arrogância europeia e insensatez de Robert Mugabe.


Penso que o nosso Governo, beneficiando da relação especial que tem com a ZANU-FP e com Mugabe, em particular, poderia empreender uma iniciativa diplomática com Joaquim Chissano no centro. Essa iniciativa poderia consistir em criar uma plataforma de discussão regional com Mugabe sobre os problemas que a sua intransigência está a criar à região, mas também sobre a necessidade de encontrar uma saída airosa ao impasse interno que se verifica em relação à transformação estrutural do país. A África do Sul e a Namíbia têm interesse directo nisso, pois eles são os próximos. Nós também seremos se continuarmos apenas a “beneficiar” da entrada de gente que tem dificuldade em perceber que os ventos de mudança vieram mesmo para ficar. Isso é coisa também de académicos que devem começar a alimentar a discussão deste assunto com matéria mais substancial do que a repetição de slógans. Por que não criar um grupo bem específico de trabalho formado por académicos e diplomatas para analisar minuciosamente o problema e dar suporte intelectual à intervenção diplomática? Conforme já disse, o problema transcende o Zimbabwe. Nós também estamos directamente implicados. Mugabe vai ser afastado do poder, mas o problema que o envolveu não vai desaparecer e é até capaz de nos vir assombrar.


Não resisto a contar um episódio pessoal. Um amigo zimbabweano médico e que participou na segunda Chimurenga fez-me uma pergunta retórica no início dos anos noventa que volta e meia aparece na minha mente quando penso no problema do Zimbabwe. Ele perguntou-me se eu já me tinha dado ao trabalho de verificar quem estava no poder na Grã-Bretanha quando os grandes momentos da libertação do continente se deram. E respondeu que sempre foi o partido conservador. Penso nesta pergunta como uma explicação parcial da atitude da ZANU-FP em relação aos britânicos. O partido trabalhista de que são membros Tony Blair e Gordon Brown nunca foi boa notícia para o Zimbabwe. Pelo menos na percepção da ZANU-FP.
E. Macamo

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Excerto do Discurso de Machel, na Tomada de Posse do Governo de Transição em 1974


"Queremos chamar atenção ainda sobre um aspecto fundamental: a necessidade de os dirigentes viverem de acordo com a política da Frelimo, a exigência de no seu comportamento representarem os sacrifícios consentidos pelas massas. O poder, as facilidades que rodeiam os governantes podem corromper o homem mais firme. Por isso queremos que vivam modestamente com o povo, não façam da tarefa recebida um privilégio e um meio de acumular bens ou distribuir favores. A corrupção material, moral e ideológica, o suborno, a busca do conforto, as cunhas, o nepotismo, isto é, os favores na base de amizade, e em particular dar preferência nos empregos aos seus familiares, amigos ou a gente da sua região fazem parte do sistema de vida que estamos a destruir. "


É um discurso que deveria ser repetido a cada tomada de posse (que não são poucas nos dias que correm).

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

A Crise do Zimbabwe


Com a aproximação da cimeira África/Europa, multiplicam-se os discursos e a propaganda anti- Mugabe. Multiplicam-se as notícias sobre o sofrimento dos nossos irmãos zimbabweanos que, agora, fazem o caminho inverso ao que fizemos quando a Renamo se batia com o Governo instituído em Moçambique "em busca da Democracia" (as aspas são propositadas).


Preocupa-me nesses discursos a leveza com que a crise do Zimbabwe é tratada.

Preocupa-me a adjectivação inerente em todo o discurso sobre o Zimbabwe.

Preocupa-me verificar que, parece que ninguém quer discutir os problemas do Zimbabwe. Apenas se fala de Mugabe como se este resignasse, os problemas TODOS dos nossos irmãos ficassem resolvidos.


Ainda não ouvi ninguém referir-se à problemática da terra que esteve na génese de tudo isto acelerada pelo oportunismo político do Mugabe (condenável diga-se) que ora se diaboliza.


Ainda não ouvi ninguém falar do incumprimento por parte dos Britânicos dos acordos de Lancaster House e do efeito desse incumprimento.


Antes, fazemos piadas com imgem como a que anexo a este texto que, pese embora reflicta a realidade do Zimbabwe, tem causas que ninguém aborda ou quer nelas pensar.


vamos lá falar dos problemas do Zimbabwe com seriedade.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Dra Ivanea Rosa Mudanisse VS DAMA DO BLING

Recebi um email com o conteúdo que transcrevo abaixo. Gostaria que merecesse o nosso comentário. O texto é assinado por MWC (uma sigla portanto).

Que opinião temos desta situação?

Começa assim:

"INGUEM TIROU O FILHO A NINGUEM
GEROU UM FILHO NOVO
DEPRESSA ADOPTIVO
Q POR SER MAIS QUE FILHO
O CHAMOU DE QUERIDO
NAO ERA DOUTOR
MAS TINHA MERITO
NEM ERA CANTOR
MAS ERA MERECEDOR
ESSE ERA MOZAMBIQUE!

Alô Ivania.

Espero-te melhor.

Tens lido e ouvido muito acerca de ti, ultimamente. E quase tudo o k se diz é um atentado à tua saúde física e mental. Mas não penses k as pessoas t querem mal, que foram fzr «coisas» para perderes o bebé. Não!

Contra ti, Ivania, nada a dizer. Diz quem estudou contigo k até foste uma boa estudante, que te formaste com muito mérito! Eras capaz de auferir retumbantes vitórias em audiências judiciais, sem trapassas, sem molhar as mãos à ninguém, jogando limpo. O problema, Ivania, é a Dama doBLING (DB), essa personagem macabra que inventaste.

Essa desmiolada que mostra as partes a quem quer ver, que faz pornografia barata em palco, mesmo com 5 meses de gravidez. Essa personagem que inventaste, Ivania, é a pior coisa q aconteceu aos moçambicanos nos últimos 10 anos. Pior que o paiol e as cheias.

Porque as casas que as cheias engoliram, estão de pé outra vez. As paredes que o paiol derrubou já estão a ser levantadas. Mas e as feridas que a DB deixou na alma do teu povo? As feridas da alma, Ivania, essas jamais cicatrizam. Jamais!

O comportamento da DB não é reprovável por ela ter o diploma. Até pk kem tem o diploma não é a DB. És tu Ivania. A ética e moral que se exige à dra. Ivania não é a mesma que se exige à artista DB.

É preciso separar as águas. Mesmo que a Zaida Lhongo(que saudades!), a Neyma e a Lizha fossem doutoras, ninguém levantaria o dedo contra elas. PorquÊ? Porque uma coisa é erotismo artístico e a outra é pornografia e pouca vergonha gratuítas!

A DB excedeu-se, Ivania! Humilhou-te a tí própria, que lhe criaste. Tirou-te o filho. Humilhou-nos a todos. Por causa dela, somos vistos lá fora como um povo oco, que náo tem nada a preservar. A liberdade da DB violou a liberdade dos moçambicanos.

Prostituíu-nos, Ivania. Por isso peço-te, Ivania: MATA LÁ a DB. Faça justiça a quem te tirou um filho. Qdo estiveres melhor, volta ao nosso convívio com outra personagem, menos pornográfica, menos americana, mais moçambicana!

Estimo-te as melhoras.

MWC"

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Celebrando o 25 de Junho

Ouviram a canção de Fany Mpfumo e pensaram que fosse fácil vencerem a nós e aos nossos leões para ficarem com a nossa terra. Pensaram que desprotegidos das sombras onde rezamos aos nossos deuses, onde os nossos animais descansam, abandonaríamos a terra. Mas não fomos embora porque tinham traído os nossos princípios derrubando uma árvore no verão. Não fomos porque aqui temos as nossas raízes. Nós não fomos embora porque nunca tínhamos vindo para aqui, somos daqui.

Mas nós sabíamos que as grandes árvores não caiem no verão, como sabíamos que o vento soprava de norte. Fizemos um pacto de sangue e continuamos com o juramento de lutar por Moçambique. Caminhamos céleres entre as matas e sentimos a cada passo o doce cheiro da liberdade. Entoamos cânticos a pátria amada e prometemos, aos que nos esperavam, que haveríamos de voltar pois o sangue de grandes líderes não é derramado em vão!

Dá azar assassinar a alma de um povo! Não se lembraram disto e mataram Mondlane para acabar-se com o sonho de Liberdade.

A 3 de Fevereiro não celebramos a fatalidade que é a morte. Nem de Mondlane nem dos seus companheiros. Celebramos os feitos ímpares dessas figuras destacadas que nos conduziram ao vinte e cinco de Junho de 1975, ano da liberdade, ano da reafirmação do eu moçambique. Reflectimos sobre os feitos dos homens que, à semelhança de todos os povos, colocamos na dimensão de todo um povo, de toda uma pátria e de toda uma nação.

Honrar esses homens, os nossos heróis, é também compreendê-los. É estudar a sua obra e colocá-la ao serviço da nossa realidade na edificação de um Moçambique melhor. Honrar os heróis é conhecê-los sem a mistificação e sem instrumentalizarmo-los numa perspectiva de consumo ou alienação política e cultural.

Ao agirmos assim, compreenderemos Mondlane, Samora, Tazama, Mabote, Magaia, Chemane ou Craveirinha (entre outros) e a sua dimensão que devem ser apropriados, por todos os moçambicanos do Rovuma ao Maputo independentemente da sua filiação partidária.

Celebramos a 20 de Dezembro o nascimento de Mondlane, como relembramos o 3 de Fevereiro o dia consagrado aos heróis moçambicanos. Eduardo Mondlane é um desses heróis que a memória do povo recorda e recordará como o obreiro da Unidade que permitiu vencer o colonialismo português, a ponto de hoje cantarmos orgulhosamente amor à pátria amada e vivermos em liberdade podendo decidir sobre o nosso futuro.

Com a morte de Mondlane quiseram nos convencer que a morte vinha dos livros ao som de uma bomba que pintou de sangue as ruas de Dar És Salam. Mas foi dos livros que aprendemos a viver nas avenidas assimiladas de Lourenço Marques onde procuraram silenciar as jovens vozes da NESAM prendendo Mondlane para mais tarde o aliciarem com uma bolsa de estudo nas terras lusas.

Mas como nós, ele sabia que não era da Metrópole que sopravam os ventos, sabia que o sonho de um povo não cai de joelhos entre o mandato de prisão na mão direita e bolsa de estudos na mão esquerda.

Não vendemos os nossos sonhos!

Os grandes homens aprendem cedo a renunciarem sonhos individuais.

Os filhos da terra sabem e repetem a história que os livros registam, que nas terras de Mandlakaze, onde surgiram guerreiros, o filho de chefe também poderia ter sido chefe. Poderia ter se prendido ao doce sabor do poder. Comandando um pequeno grupo sim, mas não deixaria de ser poder. Mas ele muniu-se de sonhos e seguiu a estrada da liberdade.

Poderia, diz a história, ter sido simplesmente da sua liberdade no sonho americano onde entrara pelas portas universitárias; em Nova Iorque onde dos escritórios das Nações Unidas poderia ver as belas praias das terras tropicais sem sentir, nem a distância o cheiro a pólvora; de onde poderia ler as atrocidades da PIDE/DGS como uma ficcionada história de tortura.

Mas renunciou esse sonho para, no areal da terra que o viu nascer plantar o sonho de liberdade onde nos mesmos bancos as crianças brancas e negras iriam aprender que o mundo não se divide pela cor da pele, que os rios não separam um povo pelas regiões, que as crenças não diferenciam os homens de acordo com as religiões. As crianças do seu país aprenderiam mais tarde que esta é uma só nação.

Eduardo Mondlane antropólogo que era colocou os seus conhecimentos ao serviço do seu povo e da sua luta, juntou-se ao projecto de unir os moçambicanos para numa única frente, a FRELIMO, lutar pelo seu sonho; lutar por Moçambique.

A 25 de Junho de 1962 os dirigentes das três organizações moçambicanas União Democrática Nacional de Moçambique – UDENAMO, União Nacional Africana de Moçambique – MANU, e União Nacional Africana de Moçambique Independente -UNAMI, souberam compreender a necessidade de satisfazer esta exigência popular, e tomaram a decisão de se unir, fundindo-se numa só FRENTE de Luta unida.

Hoje sabemos, por causa daquele verão de 1969, que os grandes homens não morrem, que tal como as grandes árvores, as suas raízes prendem-se ao solo e recusam-se a divorciar-se dele eternizando a aliança. Os grandes homens tornam-se lendas, os seus discursos são imortalizados, os seus pensamentos atravessam gerações e os seus actos são imitados.

Por isso que hoje sabemos que temos de lutar por Moçambique!

Sabemos que temos de lutar, não pela expulsão, mas pela inclusão; temos de lutar não para sermos assimilados mas para assimilarmos os desafios que o mundo de hoje nos reserva.

Hoje, sabemos que temos de estar constantemente a identificar os nossos inimigos e usamos o mesmo discurso da frente de libertação: ele não tem cor!

Hoje, como antes, sabemos que a vitória constrói-se renunciando sonhos individuais, sabemos que a nação é construída pela unidade. Mas sabemos acima de tudo que temos, sempre, de Lutar Por Moçambique.

Celebrar o dia da independência é também prestar homenagem aos nossos heróis; não é mistificação desses moçambicanos porque para eles não se punha a questão da morte; importava um Moçambique melhor que nos permitisse orgulhosamente cantar vitórias da e na nossa pátria amada.

Mas heróis não são apenas aqueles que morreram. Estes deram o seu sacrifício e a fatalidade morte lhes bateu a porta. Heróis são os homens e mulheres que fazem de cada dia do seu trabalho um 25 de Junho, lutando para, não só serem os melhores nos seus postos de trabalho, mas também para transformarem o ambiente em que vivem.

Heróis são os jovens que respondem ao chamamento da pátria para defenderem a nossa soberania.

Heróis são os moçambicanos que resistem a apelos belicistas para manterem a paz condição primordial para continuarmos a prosperar e vencer a pobreza.

Heróis são os moçambicanos que produzem o seu alimento sob sol e chuva; são aqueles que no mar, nas fábricas, nas minas, nas oficinas, nas serrações, geram a riqueza do País sonhado por Mondlane, Samora e muitos outros.

Em cada acto pensado no sentido de melhorar as nossas condições de vida interiorizamos o sentido do sacrifício daqueles que tudo fizeram para que as nossas crianças cresçam sem medo de outros homens; assumimos o esforço daqueles que deram a sua juventude batendo-se qual David contra Golias para criar condições para que haja abundância, ciência, paz, amor entre os homens de todas as raças e etnias irmanados por um mesmo ideal nobre: sermos orgulhosamente moçambicanos.