quinta-feira, 21 de junho de 2007

Celebrando o 25 de Junho

Ouviram a canção de Fany Mpfumo e pensaram que fosse fácil vencerem a nós e aos nossos leões para ficarem com a nossa terra. Pensaram que desprotegidos das sombras onde rezamos aos nossos deuses, onde os nossos animais descansam, abandonaríamos a terra. Mas não fomos embora porque tinham traído os nossos princípios derrubando uma árvore no verão. Não fomos porque aqui temos as nossas raízes. Nós não fomos embora porque nunca tínhamos vindo para aqui, somos daqui.

Mas nós sabíamos que as grandes árvores não caiem no verão, como sabíamos que o vento soprava de norte. Fizemos um pacto de sangue e continuamos com o juramento de lutar por Moçambique. Caminhamos céleres entre as matas e sentimos a cada passo o doce cheiro da liberdade. Entoamos cânticos a pátria amada e prometemos, aos que nos esperavam, que haveríamos de voltar pois o sangue de grandes líderes não é derramado em vão!

Dá azar assassinar a alma de um povo! Não se lembraram disto e mataram Mondlane para acabar-se com o sonho de Liberdade.

A 3 de Fevereiro não celebramos a fatalidade que é a morte. Nem de Mondlane nem dos seus companheiros. Celebramos os feitos ímpares dessas figuras destacadas que nos conduziram ao vinte e cinco de Junho de 1975, ano da liberdade, ano da reafirmação do eu moçambique. Reflectimos sobre os feitos dos homens que, à semelhança de todos os povos, colocamos na dimensão de todo um povo, de toda uma pátria e de toda uma nação.

Honrar esses homens, os nossos heróis, é também compreendê-los. É estudar a sua obra e colocá-la ao serviço da nossa realidade na edificação de um Moçambique melhor. Honrar os heróis é conhecê-los sem a mistificação e sem instrumentalizarmo-los numa perspectiva de consumo ou alienação política e cultural.

Ao agirmos assim, compreenderemos Mondlane, Samora, Tazama, Mabote, Magaia, Chemane ou Craveirinha (entre outros) e a sua dimensão que devem ser apropriados, por todos os moçambicanos do Rovuma ao Maputo independentemente da sua filiação partidária.

Celebramos a 20 de Dezembro o nascimento de Mondlane, como relembramos o 3 de Fevereiro o dia consagrado aos heróis moçambicanos. Eduardo Mondlane é um desses heróis que a memória do povo recorda e recordará como o obreiro da Unidade que permitiu vencer o colonialismo português, a ponto de hoje cantarmos orgulhosamente amor à pátria amada e vivermos em liberdade podendo decidir sobre o nosso futuro.

Com a morte de Mondlane quiseram nos convencer que a morte vinha dos livros ao som de uma bomba que pintou de sangue as ruas de Dar És Salam. Mas foi dos livros que aprendemos a viver nas avenidas assimiladas de Lourenço Marques onde procuraram silenciar as jovens vozes da NESAM prendendo Mondlane para mais tarde o aliciarem com uma bolsa de estudo nas terras lusas.

Mas como nós, ele sabia que não era da Metrópole que sopravam os ventos, sabia que o sonho de um povo não cai de joelhos entre o mandato de prisão na mão direita e bolsa de estudos na mão esquerda.

Não vendemos os nossos sonhos!

Os grandes homens aprendem cedo a renunciarem sonhos individuais.

Os filhos da terra sabem e repetem a história que os livros registam, que nas terras de Mandlakaze, onde surgiram guerreiros, o filho de chefe também poderia ter sido chefe. Poderia ter se prendido ao doce sabor do poder. Comandando um pequeno grupo sim, mas não deixaria de ser poder. Mas ele muniu-se de sonhos e seguiu a estrada da liberdade.

Poderia, diz a história, ter sido simplesmente da sua liberdade no sonho americano onde entrara pelas portas universitárias; em Nova Iorque onde dos escritórios das Nações Unidas poderia ver as belas praias das terras tropicais sem sentir, nem a distância o cheiro a pólvora; de onde poderia ler as atrocidades da PIDE/DGS como uma ficcionada história de tortura.

Mas renunciou esse sonho para, no areal da terra que o viu nascer plantar o sonho de liberdade onde nos mesmos bancos as crianças brancas e negras iriam aprender que o mundo não se divide pela cor da pele, que os rios não separam um povo pelas regiões, que as crenças não diferenciam os homens de acordo com as religiões. As crianças do seu país aprenderiam mais tarde que esta é uma só nação.

Eduardo Mondlane antropólogo que era colocou os seus conhecimentos ao serviço do seu povo e da sua luta, juntou-se ao projecto de unir os moçambicanos para numa única frente, a FRELIMO, lutar pelo seu sonho; lutar por Moçambique.

A 25 de Junho de 1962 os dirigentes das três organizações moçambicanas União Democrática Nacional de Moçambique – UDENAMO, União Nacional Africana de Moçambique – MANU, e União Nacional Africana de Moçambique Independente -UNAMI, souberam compreender a necessidade de satisfazer esta exigência popular, e tomaram a decisão de se unir, fundindo-se numa só FRENTE de Luta unida.

Hoje sabemos, por causa daquele verão de 1969, que os grandes homens não morrem, que tal como as grandes árvores, as suas raízes prendem-se ao solo e recusam-se a divorciar-se dele eternizando a aliança. Os grandes homens tornam-se lendas, os seus discursos são imortalizados, os seus pensamentos atravessam gerações e os seus actos são imitados.

Por isso que hoje sabemos que temos de lutar por Moçambique!

Sabemos que temos de lutar, não pela expulsão, mas pela inclusão; temos de lutar não para sermos assimilados mas para assimilarmos os desafios que o mundo de hoje nos reserva.

Hoje, sabemos que temos de estar constantemente a identificar os nossos inimigos e usamos o mesmo discurso da frente de libertação: ele não tem cor!

Hoje, como antes, sabemos que a vitória constrói-se renunciando sonhos individuais, sabemos que a nação é construída pela unidade. Mas sabemos acima de tudo que temos, sempre, de Lutar Por Moçambique.

Celebrar o dia da independência é também prestar homenagem aos nossos heróis; não é mistificação desses moçambicanos porque para eles não se punha a questão da morte; importava um Moçambique melhor que nos permitisse orgulhosamente cantar vitórias da e na nossa pátria amada.

Mas heróis não são apenas aqueles que morreram. Estes deram o seu sacrifício e a fatalidade morte lhes bateu a porta. Heróis são os homens e mulheres que fazem de cada dia do seu trabalho um 25 de Junho, lutando para, não só serem os melhores nos seus postos de trabalho, mas também para transformarem o ambiente em que vivem.

Heróis são os jovens que respondem ao chamamento da pátria para defenderem a nossa soberania.

Heróis são os moçambicanos que resistem a apelos belicistas para manterem a paz condição primordial para continuarmos a prosperar e vencer a pobreza.

Heróis são os moçambicanos que produzem o seu alimento sob sol e chuva; são aqueles que no mar, nas fábricas, nas minas, nas oficinas, nas serrações, geram a riqueza do País sonhado por Mondlane, Samora e muitos outros.

Em cada acto pensado no sentido de melhorar as nossas condições de vida interiorizamos o sentido do sacrifício daqueles que tudo fizeram para que as nossas crianças cresçam sem medo de outros homens; assumimos o esforço daqueles que deram a sua juventude batendo-se qual David contra Golias para criar condições para que haja abundância, ciência, paz, amor entre os homens de todas as raças e etnias irmanados por um mesmo ideal nobre: sermos orgulhosamente moçambicanos.