terça-feira, 17 de março de 2009

Quantas Fórmulas Existem para Analisar um Fenómeno?

Quando em serviço ou lazer me vejo na condição de ter que sair dos centros urbanos para zonas com difícil conexão à internet, uma das coisas que mais falta me faz é o frenesim dos debates na blogosfera. Isso é assim porque aprendo muito por aqui.

Quando em meados de Fevereiro me embrei, de novo, para o Moçambique real, uma das coisas que mais se discutia em quase todo o lado era a violência doméstica cujo expoente, na altura, era um conhecido músico que, supostamente, espancou a esposa grávida de 8(?) meses.

Depois vieram as SMS's e os emails anunciando "um caso mais grave" de um conhecido empresário que espancou "gravemente" uma namorada (o que nos leva a concluir que era "namorada" e que não era assumida pelo tal empresário como verdadeira esposa?). Nos emails que publicitavam este caso, o que mais me intrigou foi a ênfase que se deu à qualidade de "colaborador" do Presidente da República ao referido sujeito.

Não sei ao que vinha esse facto quando, a questão fundamental, era a da violência doméstica. Fiquei sem saber se a qualidade de "colaborador" do Presidente da República por si só afastava o indivíduo em causa de qualquer desatino que desemboque em violência seja ela qual for. Mas isso não vem ao caso.

O caso é que, nos dois casos, as condenações vieram de todo o lado, o mediatismo de um tratou de tudo e a mediatização do caso do "empresário" funcionou como linchamento da sua personalidade, antes mesmo de um juiz, em sede de julgamento, sentenciar condenando qualquer um deles.

A opinião pública, num dos casos, com ajuda de quem deve defender a legalidade enquanto defensor da legalidade e dos direitos humanos, tratou de condenar o homem. É que a presunção de inocência é de lei; e não de qualquer lei.

Numa conversa durante o fim de semana, na minha condição de jurista, e aproveitando os ensinamentos que venho tirando da blogosfera, numa roda em que o caso do músico foi aflorado, aproveitei para questionar: vocês não admitem a hipótese de as coisas terem se passado diferentemente?

A resposta foi um NÃO redondo. Houve quem avançasse que houve um pedido de desculpas do dito cantarino. Foi se acrescentando que a minha condição de Homem, e por passar muitos tempos no Guijá, Chicualacuala, me impelia a entender o tipo e a tentar justificar as suas atitudes.

Perguntei de que é que o cantarino se tinha desculpado, se da violência ou das causas que levaram a tal. Ninguém me disse nada sobre a questão.

Inspirado pelos argumentos que se seguiram sugeri que não me cabia justificar a atitude do homem mas, também, era importante tentar perceber, o que o levaria a cometer aquele desatino. Simples antipatia pelas amigas? Simples capricho de a querer ver só? Será o indivíduo desiquilibrado a ponto de aquecer água para "aquecer" as amigas da esposa? Para não ser acusado de "justificador" e parcial avancei num sentido diferente do que certos Homens presentes avançaram afirmando:

(i) imaginem que, reconhecendo as fraquezas da carne o homem tenha dito a mulher: "querida eu te adoro mas, por favor, não traga estas suas amigas cá para casa se não vão nos criar complicações, a carne é fraca."

(ii) imaginem que, num desses dias, o homem volta depois de uma jornada de trabalho, encontra a sua querida esposa com "aquelas" amigas, vai para dentro de casa e, em reconhecimento de que a mulher está "nos últimos dias" de gravidez, como bom marido, prepara ele próprio a água para o banho.

(iii) imaginem também, que como bom esposo, ele chama a esposa e lhe chama atenção da conversa havida dias antes sobre "aquelas" amigas, e esta se exalta e profere palavrões, por exemplo do género, "ainda que fosses homem".

(iv) o tipo irado com aquelas palavras, e com a desobediência da mulher com relação ao assunto "daquelas" amigas, não se controla e dá 1, duas, bofetadas a esposa (reparem que o bebé nem estava em risco o que significa que o espancamento foi cirúrgico).

(v) imaginem que "aquelas" amigas, sejam daquelas que não respeitam a ideia de que em "briga de casal não se mete colher" intervenham e "caiem em cima" do pobre moço, que impotente perante a ira, para se defender do ataque feroz da turma, recorre à panela com a água que se destinava ao seu banho e joga na direcção daquelas amigas.

Se pensássemos assim a conclusão seria a mesma? O que se seguiu foram tentativas de justificação.

Não digo que as coisas se possam ter desenrolado assim, mas porque corremos logo para diabolizar o homem sem, antes, pensarmos que as coisas podem não ser como as amigas contaram? Porque não se colocar no lugar do tipo e acreditar que ele não seja maluco para, do nada, proibir amizades da esposa, aquecer água e deitá-las etc?

Não se trata de tentativa de justificação da violência cometida (que é condenável sempre) mas, uma chamada de atenção para não corrermos para condenações quando dispomos de poucos dados e só conhecemos a história de uma lado e nem se quer estamos preocupados com o que pode ter acontecido e com o que pode ter levado àquela situação.