“[Samora] enviou-me para o Niassa, onde deveria, segundo as suas instruções orais, criar as condições mínimas para o funcionamento das instituições em território nacional caso ocorresse uma catástrofe nuclear. [...] Samora tinha como objectivo secreto “assegurar que, no caso da nuclearização da capital, o Estado continuasse e existir “ [...] Remeteu-me ordens seladas, redigidas pelo seu punho, segundo me disse, que nunca abri, e assim lhe devolvi, quando mandou terminar a minha missão em Niassa de acordo com o que informara, ai se encontravam as instruções para o caso de o matarem ou capturarem.”
Sérgio Vieira em Em Participei por isso testemunho pg 472
Nos últimos tempos, os escritos de Sérgio Vieira, dada a sua controvérsia, tem alimentado muito debate nos mais diversos meios de comunicação, desde os mais tradicionais (jornais) aos que se reproduzem através das novas tecnologias de comunicação e informação incluindo os blogs.
Por um lado temos Sérgio Vieira apresentando-se como lixívia do poder instituído, pronto a limpar a “sujeira” que ele vê em todo o lado, autorizado pela sua profunda limpeza, pureza e, quiçá, competência extrema. É mesmo nestes termos que nos falou do alfaiate que expõe o rei, das pessoas que mentem nos relatórios, do fracasso de algumas iniciativas públicas (exemplo a Revolução Verde) e daqueles que coagem a população a mentir nas presidências abertas, entre outras coisas.
Por outro estamos nós que tentamos demonstrar que Sérgio Vieira não tem condições (nem morais, nem políticas nem de qualquer género) para atirar pedras aos que continuam a dar muito de si para levar este barco do mar conturbado em que está (pobreza) para um porto seguro (prosperidade) uma vez que ele tem responsabilidades para que o barco continue (ainda) em mar conturbado já que, até há bem pouco tempo, era o responsável pela coordenação de um sector que poderia ter ajudado o país a trilhar caminhos diferentes dos actuais, caso o GPZ, por exemplo, ao invés de usar as centenas de 4X4 para fazer furos de água e promover o uso da tracção animal tivesse se embrenhado a fundo na sua missão.
Sérgio Vieira falhou redondamente e a sua saída só pecou por tardia. É que este compatriota andou durante mais de 10 anos a concorrer com chefes dos postos administrativos ou mesmo administradores distritais cuja esfera de competência lhes permitia promover a abertura de furos de agua ou o uso de tracção animal, quando era outra a vocação da instituição que recebia do Estado mais de 100 milhões de meticais e mais outros tantos milhões de parceiros e doadores.
Causa me certa indignação a forma como se apresenta este compatriota nos últimos tempos embora já devesse estar habituado as ondas que se criam com os ditos/escritos de Sérgio Vieira já que é comum ver este compatriota ser desmentido em todas as suas teses. E não é de hoje.
Estaremos recordados do debate intenso com o saudoso Dr. Domingos Arouca que expos até a exaustão as imprecisões e/ou meias verdades de Sérgio Vieira sobre a história do país; estaremos recordados de Francisca Dhlakama e sua filha Maria Francisca Dhlakama que, a meio do debate Sérgio Vieira e Domingos Arouca, vieram chamar lhe mentiroso no que toca ao percurso da bomba que matou Mondlane etc.
Mas caso sintomático mesmo é o do seu livro. Parece que todos têm algo a dizer sobre ele. Infelizmente ainda não encontrei uma menção elogiosa. Todos os que querem dizer algo sobre ele, invariavelmente, é a desmenti-lo. Ouvi até um destacado antigo combatente (portanto, colega dele) dizer que aquele livro era um bloco de cimento sem nenhum valor. De todos os quadrantes surgiram reacções de repúdio e de indignação não só pelas imprecisões ou meias verdades como, também, e até onde percebi, pela mania que este tem de atirar as culpas aos outros pelos insucessos e associar-se sempre ao sucesso.
Parece ser esta a nova estratégia. Expor a pretensa incompetência dos outros sem que uma obra consolidada num passado recente o autorize. A sua última carta publicada no jornal Domingo de 19 de Dezembro em que retoma mais uma lenda antiga, parece sugerir que ele é o mensageiro que está ou foi sacrificado por tentar alertar o chefe das coisas más que vê e avisa, diligentemente.
Pode até ter razão. Durante mais de 10 anos deve se ter preocupado em ver a sujeira dos outros e avisar o chefe do que, necessariamente, em fazer algo em prol de um verdadeiro desenvolvimento do Vale do Zambeze.
Esqueceu-se Sérgio Vieira de dar uma satisfação aos camponeses de um distrito de Tete que até hoje aguardam o dinheiro que lhes é devido pela comercialização do seu algodão para o Zimbabwe com intervenção do GPZ. Pode ser que o dinheiro ainda nem tenha sido enviado pelos zimbabueanos de volta a Moçambique para ser distribuído por aqueles compatriotas nossos. Mas pode, também, acontecer que o dinheiro já tenha voltado e tenha sido dado outro caminho lícito ou mesmo ilícito, mas era bom que aqueles compatriotas soubessem de algo. Acredito que disto, Sérgio Vieira não alertou o “rei”. É até provável que o “rei” ainda nem saiba mas, de certeza, quando escalar tal distrito saberá. É algo que, de certeza, nunca veio em relatório nenhum.
É um facto. O Governo cometeu alguns erros. Aliás, só não os comete quem nada faz. É factual também que recuou em relação a algumas medidas tomadas, em alguns casos com espaço para debates e críticas mas, como alguém disse não sei onde, só não muda de ideias quem não as tem e se o recuo ou mudança de visão é para o bem de toda uma nação melhor reconhecer publicamente um mau cálculo (de tempo, por exemplo, no caso do registo de cartões SIM) do que permanecer no erro com prejuízos para o país. Refiro me a estes aspectos porque levantados por Sérgio Vieira na sua última carta.
Mas convém não perdermos de vista quem é Sérgio Vieira. Sérgio Vieira é aquele individuo capaz de contar um episódio como se o tivesse vivenciado na primeira pessoa, dando detalhes que até os que lá estiveram desconhecem.
Por exemplo, qualquer facto que narre sobre vivências e incidências da luta a partir da Tanzânia reportando ao período de 1968 a 1971 (salvo erro das nossa fontes) como se estivesse lá ele mente. Lá não estava. Esta é mais uma das razões porque se questiona a credibilidade da sua informação no chamado livro bloco de cimento.
Portanto, este é o Sérgio que escreve nos jornais. Este é o Sérgio que todos interpelam com argumentos que o desmentem. Não foi bem sucedido no GPZ e, a julgar pela sua última carta, quem decide deve ter chegado a conclusão de que, por detrás dos muitos “está tudo bem camarada Presidente” inscritos nos relatórios daquela instituição estavam resultados irrelevantes que não valem o esforço financeiro, material e humano ali encaminhado.
Outro facto merece referência aqui. O Presidente faz bem em ir contactar as populações e, acredito, fá-lo não porque desconfia da sua equipa, a ponto de querer ir conferir o que lhe dizem nos relatórios. Creio eu que vai ouvir do seu povo ensinamentos sobre como fazer melhor o que está a ser feito, corrigir andamentos (até em função do que o povo lhe diz), conhecer as dificuldades concretas de cada ponto etc. Consta que o Presidente mandou calar Sérgio Vieira em Moatize quando lhe quis aconselhar a não fazer a Presidência Aberta e Inclusiva. Ou tinha o Sérgio Vieira que o Presidente ouvisse do Povo e das estruturas dos governos locais o seu nível de desdém pelo seu carácter, improvisao e usurpação de funções alheias. Seria presunção demais deste Governo julgar que o povo é uma tábua rasa, sem conhecimento nem visão sobre o que quer de si e das suas comunidades. Não é assim e o Presidente sabe e sublinha isso, razão porque, literalmente, não sai dos pólos de desenvolvimento.
É verdade que em alguns pontos o Presidente e sua equipa constatam desvios, erros graves, mentiras etc. Nesses casos as instituições concretas têm que agir: a PGR age, o Ministério da Administração Estatal idem, e o Governo como um todo pondera as mais diversas situações, de certeza, comparando os “factos” descritos nos relatórios com a realidade vivenciada no terreno.
Pode ser assim que o GPZ foi extinto. Sérgio Vieira perdeu o tacho e agora virou estrela de comentários cáusticos. Só falta vê-lo na “espetaculosa” quase como outro comentador que lia um artigo de uma qualquer lei e julgava-se sabichão, conhecedor da ciência chamada direito. Recebeu tantas palmas dos incautos até cair na sua própria arrogância, aliás, na banana que tirou do bolso certa vez perante as câmaras e o olhar atónito da apresentadora do jornal da noite da dita cuja “espetaculosa”o que provocou uma onda de indignação dos profissionais do direito e outros que o corrigiram. Sensatamente esse comentador reconheceu que nada sabe. Deve estar a estudar, ler e aquilatar-se já que depois disso eclipsou-se. Já não era sem tempo a desinformação tinha atingido níveis insuportáveis.
Infelizmente Sérgio Vieira não lhe segue o exemplo.
4 comentários:
Clap clap
"Seria presunção demais deste Governo julgar que o povo é uma tábua rasa, sem conhecimento nem visão sobre o que quer de si e das suas comunidades"
"O Governo cometeu alguns erros. Aliás, só não os comete quem nada faz. É factual também que recuou em relação a algumas medidas tomadas, em alguns casos com espaço para debates e críticas"
Diz o Matsinhe e bem. Os mocambicanos, nas suas comunidades, mesmo os menos escolados que existem, sabem o que querem de si. As accoes do Governo tem que ser orientadas para sistematizar esse conjunto de saberes e as expectativas que existem em cada ponto.
Realmente so nao comete erros quem nada faz. A Frelimo governa este pais ha 35 anos e se todos formos chamados a catalogar erros governativos encontraremos MONTANHAS deles; desde os mais simples aos mais graves. Os partidos da dita oposicao politica capitalizam estes erros; eh logico que sao coisas que nunca lhes seriam apontadas tendo em conta que nunca fizeram o que a frelimo esta a fazer: Governar o pais. Mais do que esses, ha os mocambicanos que lutam por isso: catalogar erros... se calhar ate eh bom, pode ser porque o sucesso esta a vista...
E mesmo isso companheiros. Bom ano a todos e sejam bem vindos aqui.
Clap Clap... o que aplaudes Ximbitane?
Ao contrario do que muitos pensam e tem dito, o PR nao acha o seu povo ignorante. Dele aprende algo penso eu.
Infelizmente continuaremos a ter uma nata de mocambicanos mais preocupados em catalogar erros. Mas isso eh sintomatico. Veremos o futuro.
O livro de Sérgio devia até ser banido. É que há entre nós, incautos que pela dimensão do autor, vão inocentemente consumindo todas as inverdades que um pouco por todo lado tem sido denunciadas do livro.
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