Em 1975 o mundo assistiu ao nascimento de uma nação que, hoje, os seus donos denominam (para além do nome oficial) de pérola do Índico, país da Marrabenta por aí além.
Nessa época o poder instituído escolheu o rumo que o país deveria tomar em termos ideológicos, políticos, económicos e sociais. Desportivamente falando, a liderança determinou o estilo de jogo que os intérpretes indicados de entre os filhos desta nação deveriam interpretar. Definiram-se estratégias para melhor vencer os grandes desafios desse momento. O desenrolar do jogo foi justificando um ajustamento aqui e acolá.
Perante a disponibilidade de sistemas alternativos, e como forma de dar um novo impulso ao grande jogo pelo desenvolvimento, as lideranças, com o envolvimento do povo, trocaram o sistema de jogo. Estávamos em 1990; abandonávamos a economia planificada para abraçarmos a economia de mercado. Abandonávamos a esquerda pura que, na definição de Norberto Bobbio, luta pela igualdade opondo-se, neste ponto, à "direita", comummente defensora da ideia de que, em qualquer sociedade, há a tendência natural a surgirem elites políticas, económicas e sociais. Abandonávamos a esquerda que valoriza o colectivo sobre o individual, que valora direitos colectivos e uma economia centralmente planificada, para abraçarmos a liberalização do mercado com todas as suas consequências (o aparecimento de elites económicas, políticas e sociais).
É evidente que esta viragem não agradou a todos. O sistema anterior tinha seus adeptos entre os jogadores e entre os que definiam a estratégia nessa época. Nestes termos, alguns jogadores não se enquadravam no novo sistema de jogo e/ou, simplesmente, por opção, não fizeram parte da equipa titular.
Depois do anúncio do regresso do “Governo do Povo” com a subida de Armando Emílio Guebuza ao poder, os desagradados com a viragem, cedo profissionalizaram-se em romancear o período anterior (leia-se o período do saudoso Presidente Samora Mache) esquecendo de contextualizar tudo o que propiciou alguns dos resultados alcançados com o estilo de jogo anterior. Profissionalizaram-se na demagogia a ponto de, como alguém disse no blog do Mutisse, custar “muito, também, ouvir Jorge Rebelo a transformar-se hoje em campeão do espírito crítico. O maior responsável do pensamento unânime no nosso país é precisamente Jorge Rebelo. Ele era o guardião da "pureza" das ideias revolucionárias no Partido e no país. Seria bom imaginarmos o que aconteceria, nos tempos em que este senhor controlava a ideologia, se um jornalista mostrasse espírito crítico!”
Os que continuaram no activo, caso de Sérgio Vieira mantiveram-se de falinhas mansas enquanto integrados no aparelho administrativo do Estado. Este último, desde que, na esfera da revitalização da equipa caiu fora, especializou-se em expor as fragilidades de uma máquina, fragilidades também potenciadas por ele próprio uma vez actor activo no plano geral de eliminar as fragilidades como sejam a pobreza, o deixa-andar e a corrupção. Imagine-se pois um jogador que uma vez substituído começa a ver fantasmas de jogadores que não marcam os adversários, dos que entregam a bola ao adversário, dos que ele viu fingirem estar a correr, dos que simplesmente se predispunham a marcar auto-golos. Note-se que a tal equipa, apesar das dificuldades, mostrava bons resultados em determinadas áreas, pese embora o flagelo da pobreza continue presente. Portanto, não estamos a falar de uma equipa a ser goleada.
É esta postura mesmo que Sérgio Vieira tem adoptado nos últimos tempos. Falou de gente que mente nos relatórios, de dirigentes que coagem a população a mentir ao Presidente, de falsas informações etc. O que não nos diz é o que fez para alertar o treinador para estas anomalias vistas durante o tempo em que esteve em campo fossem corrigidas. A verdade é que, das suas cartas a muitos amigos anteriores a sua exoneração, nada disto transpirava. A verdade é que o treinador decidiu, exactamente, exonerar a ele. Ele, o tal que não mente em relatório, o tal que ouve e vê gete coagir população para mentir para o Presidente. Ele o tal que faz tudo bem como tenta nos dizer em cada um dos seus escritos. A verdade é que, para alem de deixar cair Vieira, matou-se o GPZ talvez por se constatar que aquilo em que se tinha transformado durante o reinado de Vieira inutilizava a instituição por completo.
O GPZ tinha a função específica planificar, desenvolver, supervisionar o desenvolvimento daquela região. Sem fugir a sua responsabilidade no desenvolvimento nacional, o Estado criou um ente autónomo com tal função para promover o desenvolvimento de uma região especial e prioritária, e colocou na sua direcção um quadro que se julgou competente (até em função do seu passado), para pôr em marcha esse objectivo. Nesta qualidade, Sérgio Vieira, para além dos recursos materiais e financeiros que lhe eram alocados, tinha acesso às entidades governamentais relevantes (se não mesmo ao Governo como um todo), tinha acesso a doadores com os seus mais diversos projectos, em suma, tinha acesso a toda uma panóplia de meios humanos, materiais e financeiros para pôr em marcha o objectivo de tornar menos pobres os habitantes do Vale do Zambeze e, acima de tudo, criar lhes mecanismos não só de se auto-sustentarem mas, também, de criarem riqueza. A verdade é que nada do que está lá indica que tenha havido um gabinete desses. O indício do fracasso de Sérgio Vieira no GPZ é o anúncio dele de que a Revolução Verde falhou.
Perguntava alguém num fórum de debate se há espaço para crítica na equipa? Sim, há e sempre houve e muitos destes jogadores beneficiaram desse espaço; são membros activos e de barba rija do balneário onde se discutem, cozinham e se corrigem andamentos em relação aos destinos do país que interessam a todos. Todas as aberrações trazidas a público por Sérgio Vieira e outros têm espaço nesses espaços e, nessa perspectiva, com o uso integral do espaço de diálogo que existe na equipa escusado seria nós que não temos acesso a esses espaços virmos lhe questionar sobre qual o seu papel nos termos em que o questionamos de momento. Poderíamos discutir a relevância de uma unidade como GPZ na esfera dos desafios actuais do país e não o papel do seu líder que ora tenta fugir da sua responabilidade escamoteando a sua responsabilidade naquilo que ele critica hoje.
Pergunta a mesma pessoa se “esteve esse jogador em campo porque tem qualidades ou meramente porque caiu nas graças do treinador?” Não quero acreditar que Sérgio Viera não tenha qualidades. Nem está isso em causa. A verdade é que, mesmo com as suas qualidades, este camarada falhou redondamente na gestão do Vale do Zambeze e no seu potenciamento não podendo deste modo, a coberto das liberdades democráticas, vir a público se eximir das responsabilidades de um eventual fracasso de algumas politicas traçadas que ele tinha responsabilidade de as aplicar com sucesso.
Numa outra perspectiva, não devemos esperar que estes camarada com azia venham a público falar baboseiras para lhes chamar atenção a posterior em relação ao seu mau desempenho enquanto no dirigismo público! Porém, isso não significa que nos devamos calar perante as enormidades que têm dito. É necessário chamar-lhes a razão para que reflictam no que dizem até para lhes proteger do ridículo em caiem muitas vezes, visto que os queremos bem. São nossos companheiros.
A um quadro da envergadura de Sérgio Vieira, com acesso ao Presidente do Partido e aos diversos órgãos deste, fica mal lançar recados pelos jornais. Fica ainda pior trazer para estes espaços matérias discutidas dentro dos órgãos do partido e que interessam apenas a estes órgãos como o fez em relação a matérias discutidas recentemente numa reunião em que participou.
Acabamos nos alongando a falar de Sérgio Vieira. A verdade é que pretendíamos passar a mensagem de que a história é dinâmica. As mudanças que vão ocorrendo nas dinâmicas históricas não devem criar azias. Mais do que constatar as mudanças ocorridas na história do país e olharmos com saudade para o tempo que passou, devemos olhar para nós enquanto país no contexto da região, de África e do mundo de forma desapaixonada, e avaliarmos as nossas hipóteses de sucesso num mundo cada vez mais global, sem a adaptação às dinâmicas do nosso tempo. O que seria de Moçambique no contexto da região sem a mudança do regime político ocorrida em 1990? Devemos nos perguntar sempre.
Do mesmo modo, temos que assumir que nos lugares em que somos colocados, não somos meros bibelôs decorativos; temos responsabilidades que devemos nos esforçar por realizar e que um trabalho em equipe implica sempre entreajuda, correcção mútua etc. E ninguém disse que há lugares cativos. A cada momento surgem quadros mais preparados para determinados lugares, para além da própria necessidade de “refrescar” a equipa com jogadores menos cansados que tragam outra dinâmica a equipa. Nestes ermos, o sucesso embora potenciado a partir de cada um é partilhado por todos, da mesma forma que o insucesso é igualmente partilhado por todos, não valendo, em equipa, apresentar-se como isento dos erros ou fracassos, sendo que, até o mais virtuoso dos membros da equipa é parte dos sucessos e insucessos. Assume as culpas pelos golos sofridos ou não marcados. Não me parece que Sérgio Vieira fosse o mais virtuoso; mesmo que fosse, cansa-se e/ou há gente mais motivada que ele ou que dá mais garantias em determinado momento do que ele. E, a julgar pela mania de trazer a público coisas que podiam ser ditas em fóruns próprios ou coisas discutidas a porta fechada, fica claro que de virtuoso não tem nada. Já me arrepio só de pensar que ele foi Ministro da Segurança… não admira que o inimigo tenha bombardeado a Matola sem que desconfiássemos de nada, um bombardeamento feito, praticamente, no muro da casa do Presidente que viria a morrer sem que a segurança do Estado tenha desconfiado de nada. Aliás já diz o Sérgio Vieira no seu livro que pescava e txilava com o número 1 da contraparte sul-africana do regime do apartheid em matéria de segurança. Não imagino de que falavam. God save us.
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