Martin de Sousa Mondlane escreveu no “Notícias” de sexta-feira dia 19 de Junho, um artigo de opinião igualmente publicado no seu blog “Soldado Raso,” intitulado “Conspiração Teorizada.”
A tese do Martin Mondlane centra-se no aproveitamento político que o MDM e o seu líder, o senhor Daviz Simango têm feito do famigerado e largamente condenado atentado e da possibilidade de o tal atentado ter sido pensado, executado por gente do MDM e atribuído à Renamo, ficando Daviz Simango, mais uma vez, com a figura de coitadinho, apelando dessa forma às simpatias dos moçambicanos.
Todo o moçambicano de bom senso ficou chocado com a estória do atentado. De políticos a membros da sociedade civil (aqui para significar organizações não partidárias) foram muitas as vozes que se juntaram para condenar tão vil acto.
Apesar de ter recebido as mensagens de que o Martin de Sousa Mondlane fala no seu artigo, confesso, não me ocorreu a possibilidade de o atentado ter sido forjado. Os pronunciamentos de alguns responsáveis da Renamo empurraram me para a ideia de que esta organização assumia que o acto tinha sido protagonizada por gente sua, seja a mando de Dhlakama ou não.
Mas a Renamo é como é. Funciona como um coro desafinado, qualquer um berra em função das percepções que tem em cada momento, muitas vezes na avidez de protagonismo em situações que só a ridiculizam. Isto para dizer que, embora me pareça remota, a tese do Martin de Sousa merece algum aprofundamento.
É que, enquanto Moçambique e os moçambicanos se solidarizavam ao MDM e ao seu líder por actos atentatórios às liberdades plasmadas na constituição, o MDM e o seu líder, usavam o acontecido não no sentido da responsabilização dos autores de tão vil acto mas, sim, para mobilização dos moçambicanos para a sua causa.
De facto, a mensagem citada pelo Martin de Sousa e confirmada pelo “Reflectindo” no seu blog “Reflectindo Sobre Moçambique) segundo a qual a “democracia em Moçambique está cada vez mais a deteriorar-se só você pode salvar Moçambique “ não sugere outra coisa se não o chamamento à junção ao MDM em função do acontecido. Daí hoje me perguntar, é completamente descabida a tese do Martin?
Seja como for, a violência é de todo condenável. Aproveitar-se da violência para ganhos políticos, como plataforma de mobilização é, quanto a mim, legitimar a violência como recurso político o que é errado.
Mudemos de assunto.
Quando esta coluna sair, terei voltado ao meu dia a dia de trabalho depois de ter estado em Nwajahane. Depois de ouvir discursos exaltadores dos feitos de Eduardo Mondlane. Discursos em que se vai repetir o que se disse no simpósio de há dias e em vários outros fóruns onde se discute a vida e obra de Eduardo Mondlane.
Mas, mais do que isso, e como sugere Júlio Mutisse lá no seu blog “Ideias Subversivas” é “necessário que peguemos a construção a volta dos nossos heróis e a usemos como plataforma inspiracional para os desafios do presente e do fututo.” É necessário que ”renovemos o "Lutar por Moçambique" e coloquemos os ideais lá expressos ao serviço dos desafios do momento” ao mesmo tempo que, como sugere ainda Júlio Mutisse, “usemos o que sabemos de figuras como Filipe Samuel Magaia herói (e outros) em benefício das lutas que travamos pelo bem estar da nação, independentemente dos critérios que possam ter conduzido a sua heroificação.”
É necessário que falemos dos nossos heróis. Esta semana tem se falado, e muito, de Eduardo Mondlane. Mas, mais do que falar, é necessário que como diz Mapengo, consigamos trazer Mondlane para “lutar por Moçambique” no século XXI.
Alio me a todos os que assim pensam e coloco este desafio à nação também, porque, como diz o refrão de uma música que ouvi cantar na igreja por muito tempo (aqui adaptada a realidade política), “o sol não se põe na alvorada, a frente mais triunfos virão, se nas nossas forças confiarmos, arregaçarmos as mangas e trabalharmos, é certo que triunfaremos” (versão corecta: o sol não se põe na alvorada, a frente mais triunfos virão, se em Seu nome confiarmos, proclamarmos a salvação, o sol não se põe na alvorada).
Outro assunto.
Esta semana o país completa 34 anos após o advento de 25 de Junho de 1975. Para além de festa, a data deveria marcar um momento de reflexão sobre o que foi sonhado pelos libertadores, o que temos de momento e o que se perspectiva para o futuro.
Que país sonhou Mondlane? Se ele “acordasse” sentir-se-ia identificado com o país que somos? Onde estão os desvios? Como corrigi-los? São muitas as questões que nos podemos colocar.
É certo que há muito ainda por fazer. Mas há sinais de que as coisas começam a mudar e se olharmos a volta sentiremos esses sinais de mudança. Mas mais do que reconhecer a existência de que há ainda muito a fazer, é necessário que tracemos correctamente as prioridades e hajam estratégias claras e funcionais sobre como fazer o que identificamos como algo por fazer.
Será que o 25 de Junho nos dará essa oportunidade ou teremos que esperar as eleições?