quarta-feira, 22 de abril de 2009

Greve Geral - Estaka Zero - Uma Face Antiga da Intervenção

Anda-se de há uns tempos a esta parte a txunar-se o Azagaia como ícone dos desabafos (na visão de muitos) ou da música de intervenção/crítica na visão de outros.

Quero neste espaço começar a trazer a visão de outros. Não no sentido de compará-los ao Azagaia e nem de dizer quem é melhor que quem. Mas no sentido de desmistificar a ideia de que o Azagaia é o único.

Quando o Azagaia ainda cantava que “conheci uma Suzete, numa gala Jet 7, olhar discreto abanava o leque, perguntei o que é que bebe, um cocktail pedi a garsonet, disse lhe que gostava de Rap casinos e Internet, que vivia só numa flat,bla bla bla”, JÁ o ESTAKA ZERO cantava a música abaixo:


GREVE GERAL


Yea yea yea,

Liberdade de expressão! São os Guerreiros

Steve Biko, Eduardo Mondlane, Estaka Zero, Nelson Mandela

(2 caras)
O vento já não sopra do norte
A sombra da morte
É que persegue o pobre que se joga da ponte
E com pouca sorte
Procuramos arranjar maneira
De encontrar felicidade no meio de tanta miséria

Eu só queria um armário e uma mesa
Sou o operário da empresa
Que vocês privatizaram e o salário não chega
Hoje dizem que não precisam de mim
Tem uma máquina inteligente que fará todo o serviço por mim


(f… it)
Eu não quero seu salário de fome
Eu pego ma home
Eu sou o proprietário da home stream
Não importa se o primeiro ou o vice
Todos eles são folgados eu só quero meu dinheiro eu disse

Baixa a cabeça ponha essas mãos em cima
Empregado revoltado com o patrão da firma
Mão p’ra cima tenho os meus manos comigo
Se te armas em esperto acabo contigo

Coro,

O que é que fizeram que se possam orgulhar
Muitos anos de poder só nos sabem roubar
Vendo o povo na miséria não podemos calar
Heeeeeeeeee é a razão desta greve geral (2x)


(N’Star

Falaram de amor
Acabariam com a dor
E para todo trabalhador
Futuro melhor

Melhor para quem se para nós está como de antes
Só melhorou no elevado número de traficantes
E o que fazem só nos tem criado revolta
Prendem inocentes criminosos andam a solta
Resultado: a cada dia morre alguém
Que tentava numa esquina proteger o seu bem

E eles dizem o que sempre dizem e só dizem
De promessas estamos fartos queremos que concretizem
So querem saber de Money o povo que reclame
Enchem suas barrigas e o povo que se dane

Eu lamento por todos que estudam por um futuro melhor
Mas não tem condições para fazerem o ensino superior
Diz me, mas diz me com sinceridade,
Quem incentiva a corrupção e a criminalidade
Come on

Coro

(Jay P)

Nos hospitais as filas são assunto sério
Já comecei a pedir boleia para o cemitério
É o ministério que tutela por isso
E não dá conta disso
Não quer assumir o compromisso

É o estigma do SIDA
Que deixou desaparecida
Aquela esperança que existia de vida

E há mais
Se tu és pobre nunca jamais
Adquiririas os compromidos anti-retrovirais

Se o seu marido nem emprego tem
Quando voltou da Germany tinha cem
Uma MZ, RFT e um CD MilMar e um Schneider também

Quando sai de casa pega no chapa
Vai para casa buracos que estão na estrada
Direcção é a praça desemprego que ataca
O transporte é Timaka e a saúde que falta
De norte a sul a fome que mata
Pela TV vejo o holocausto vejo o fim
E um político de gravata que mente para mim
E peço o que fizeram que se possam orgulhar?

Coro


Porque, uns, recusam em reconhecer ou ver que há outros com "méritos" nesta coisa de "música de intervenção"? Será por serem boa "bandeira" e outros não?

6 comentários:

Shirangano disse...

Eu costuma a dizer que nos, os moçambicanos, atingimos o auge da mediocridade.
E quando o Azagaia diz(canta) o que ja sabemos, ou melhor, quando diz que os dirigentes da frelimo são corruptos, enchemos a boca para dizer que ele canta bem, tem talento, tem muito razao e muitos outros adjectivos enfadonhos tipicos de cidadãos mediocres.

Bayano Valy disse...

caro politicando,
é bom vê-lo e em acção. acho que a perguntas que fazes já foi feita por outros noutra vertente musical. veja como reagimos por estarem a dar relevo a essa mediocridade (minha opinião) chamada pandza e dzukuta? veja o protagonismo que se dá à lizha james? achas que é melhor que outros ou outras? talvez a diferença para muitos, ou seja, os promotores de uns em detrimento de outros resida na capacidade que uns têem de nos encher os ouvidos com as suas masturbações culturais. por exemplo, já não se fala da minha banda hip hop preferida. porquê? não aparecem em público. aliás, antes das mentiras da verdade já existia o país da marrabenta. mesma a suzete surge numa participação do azagaia no cd um passo em frente.
abraços

Júlio Mutisse disse...

Gonçalves meu irmão, em cada momento, uma arma de aremeço.

Só posso dizer isso e concordar com o Bayano quando diz: "os promotores de uns em detrimento de outros resida na capacidade que uns têem de nos encher os ouvidos com as suas masturbações culturais" pese embora, em alguns casos, seja a "capacidade que uns têem de nos encher a paciência com as suas masturbações políticas".

PC Mapengo disse...

O problema não está simplesmente em se dizer (cantar) o que já se sabe mas sim como se diz isso. Alguém disse que todos podemos ser escritores mas nunca o seremos suficiente se não tivermos o pequeno toque mágico que nos transforma em grandes escritores. Penso que o mesmo se coloca na música. Falta muito toque mágico. A música de revista (como eu chamo) coloca esse tipo de desafio, não só de dizer que os governantes são corrupto (e daí?) já lemos e ouvimos isso em qualquer esquina. Então o desafio é transformar isso em arte. E, quando aparecem muitos desses artistas (?) de intervenção (?) procuramos sempre que nos digam o que já sabemos (dificilmente a música nos pode trazer uma novidade em termos de informação; não é sua função) de forma que nos desperte para uma outra realidade. O “país de Marabenta” conseguiu não só nos alertar do que já sabíamos de forma artística, como também nos oferecer um termo para definirmos a pátria amada.

Matsinhe disse...

Muito obrigado a todos que passaram por aqui.

PC, é evidente que não é função dos músicos trazerem nos informação; eles amplificam os problemas e o que dá magia a esse amplificar é a forma como o fazem. Com arte. A nós, mas do que sufragar dando ou não dando razão, cabe reflectir sobre a mensagem que eles nos dão.

Ao mesmo tempo, aos músicos, principalmente estes de intervenção, impõe-se uma abstracção de modo a que possam, eficazmente, intervir sem "prisões" nos vários temas candentes da vida da nação. É preciso evitar a tentação de servir como arma de aremeço político alinhando num lado SEMPRE contra o outro.

Já que aludes ao tema o País da Marrabenta, trouxe nos esta categoria de definir a nação. O Estaka Zero nos convida, aliás, convida a FRELIMO a pensar no que fez de que se possa orgulhar nestes anos de independência... o Azagaia nos convida à Marcha (a tal que chamaram de insitamento a violência) e repete que se farta o que todos nós dizemos: corruptos, corruptos, corruptos e adiciona mais um epítepo aos nossos governantes e aos homens fortes do regime: Assassinos. Notas a diferença nas abordagens?

Tenho que dar razão ao 2Caras: O país da marrabenta é um CLÁSSICO e será ouvido por muito tempo. O que se seguiu pode ir nessa categoria? (nisso se inclui o Azagaia).

Mutisse,

Wena Makwero, o Azagaia seria arma de aremeço de quem, contra quem? Pergunta ingénua né? Mas quem o muninciaria? esta é a minha questão.

Bayano,

Será que nós somos apenas consumidores passivos daqueles que têm "capacidade que uns têem de nos encher os ouvidos com as suas masturbações culturais"?

Shir,

O comentário do PC responde em parte a sua preocupação. Uma das coisas que faz com que adoremos esses rapazes é eles dizerem alto o que muitos dizem baixinho. Mas mais do que dizer sim senhora tipicamente moçambicano, deviamos dar passos que essa rapaziada é incapaz de dar (por muitas razões) para entender e mudar o estado de coisas que eles denunciam. Mas, é um facto, nos acobardamos.

Quando a GPro lançou o país da Marrabenta, ficamos a rir da ideia de que os Guindzas tinham mais armas do que a própria polícia, anos depois vimos o Chaúque a chassinar polícias. Se calhar não levamos a sério aqueles rapazes...

Matsinhe

PC Mapengo disse...

Matsinhe xaka la mine

Não tenho talento para ser advogado de diabo, mas parece injusto pegar simplesmente no Azagaia como quem “repete que se farta o que todos nós dizemos”. Vamos ser francos, ele não foge a regra. O Gpro por exemplo não fez nenhuma profecia como procura nos fazer compreender quando diz que “ficamos a rir da ideia de que os Guindzas tinham mais armas do que a própria polícia, anos depois vimos o Chaúque a chacinar polícias.” Nós estamos habituados a ver isso em diferentes praças. Chaúque foi o guindza mais mediatizado mas os nossos noticiários assim como as nossas conversas de esquina já traziam isso.
“E eles dizem o que sempre dizem e só dizem
De promessas estamos fartos queremos que concretizem
So querem saber de Money o povo que reclame
Enchem suas barrigas e o povo que se dane”
Esta estrofe, por exemplo, podemos encontrar no “male ya pepa” de (que saudade de uma estrela) Eugénio Mucavele ou no “vada voxe” ( ei que triste sina) de Geremias Nguenha. Eles só não se enquadram no meu “música de revista” mas já nos apresentam isso.
Portanto Matsinhe, para mim, o problema de Azagaia não está nas repetições, pois isso todos eles fazem, todos eles repetem aquilo que a gente fala numa roda qualquer. Se existe problema pode ser na forma como ele repete, no que muitos (não sei até que ponto é verdade) dizem ser ele arma de aremeço político.
Agora, quanto ao espaço que dão a estes em relação ao que para outros são verdadeiras estrelas, sou de opinião que já passou a era de artista cantar, pensar e correr atrás das editoras e espectáculos. Os artistas devem ter um representante. Feliz ou infelizmente esses que contestamos já se aperceberam que não basta ter talento. Aliás, compreenderam que nem é preciso ter talento mas sim a capacidade de furar.