Viva Companheiros. Cá estou eu, neste espaço, pela primeira vez neste 2009 que quase consumiu dois meses. Que fazer? Quando se vive e trabalha lá onde muitos só conhecem pelo "Ver Moçambique" acaba dando nisto. Mas cá estou eu. Sejam felizes no que resta (e não é pouco) de 2009.
Já viram o título? É provocador. tão provocador como publicar a "correspondência" de muitas pessoas aqui. Pois então, o que reproduzo abaixo é resultado de uma troca de emails a que fui copiado. Achei o email restritivo demais por isso trago o debate para aqui.
Pensei nisso ao ler Construção selectiva da “realidade”! de Patrício Langa e O direito à razão XX "Do medo das consequências" e outros textos recentes de Elísio Macamo.
HAVERÁ MESMO ALGO DE ERRADO EM ÁFRICA?
Email 1 (de PC Mapengo para Júlio Mutisse e outros)
Parece uma brincadeira, mas muitos países africanos estão relacionados a isto:
Há 29 anos, Dos Santos (José Eduardo) tornou-se presidente e Reagan estava na presidência, Obama tinha 15 anos.
29 Anos depois, Dos Santos continua na presidência e Obama chega a presidência onde estava Reagan.
Há 29 anos que o pai de Obama faleceu, tivemos Reagan, Bush pai, Clinton e Bush filho nos USA como presidentes por 8 anos cada mas em Angola a mesma pessoa nos seus 60's e continua a tentar convencer os Angolanos de que pode introduzir modelos de desenvolvimento do pais.
Isto deveria fazer-nos reflectir? Alguma coisa esta seriamente errada com África!!!!! Algo esta errado comigo & contigo também!!!!!!!!! (destaque e sublinhado meu)
Email 2 (de Júlio Mutisse para PC Mapengo e outros)
Quem te disse que o que serve nos EUA deve servir para nós em África?
Quem te disse que os modelos ocidentais são "transladáveis" tal e qual para África e Angola em Particular? (ainda por cima és historiador).
A pessoa que escreveu isto está cansada do pobre do Zé Du. Estarão os angolanos, na sua maioria, cansados?
Não haverão sinais da capacidade inovativa deste homem em angola?
Deixemos o Zé Du para lá:
O que deixaram para trás, o Reagan, Bush pai, Clinton (este tentou brincar as guerras e foi humilhado na Somália) e o Bush filho? Flores por todo o lado?
Porque temos que lembrá-los apenas (destaque e sublinhado meu) pela alternância no poder e não pelo rastro de destruição que causam um pouco por todo o mundo?
Porque não lembrar essa gente que fica pouco tempo mas é capaz de deixar o Iraque, Afegenistão, Bósnia, Líbia, Somália como as deixaram?
Porque temos que DIABOLIZAR OS NOSSOS LÍDERES TENDO ESSES COMO EXEMPLO? (destaque meu)
Querem me dar bons exemplos? Citem me o Botswana ao menos, mas ao mesmo tempo me digam como é que a maioria de uma populaçãozinha que não encheria Maputo está infectada pelo HIV.
Email 3 (de Júlio Mutisse para PC Mapengo e outros)
Caros camaradas copiados,
A ideia com a minha resposta abaixo (neste caso acima, GM) não era violentar o bom do meu irmãozinho Mapengo e muito menos desculpabilizar a mania do poder perpétuo que caracteriza as lideranças de muitos países africanos. (destaque e sublinhado meu)
O objectivo é despertar o nosso sentido crítico em relação as coisas que nos são dadas a consumir e a reencaminhar.
De certa forma, com um email como aquele, somos todos obrigados a condenar/diabolizar o Zé Eduardo dos Santos e a bater palmas a alternância no poder nos EUA de forma acrítica.
O essencial do que devemos, de certa forma, questionar se quisermos diabolizar nossos líderes consta do meu email abaixo. Na questão dos anos no poder, Porque temos que lembrar, o Reagan, Bush pai, Clinton e o Bush filho apenas pela alternância no poder e não pelo rastro de destruição que causam um pouco por todo o mundo? O que deixaram para trás? Flores por todo o lado? Porque não lembrar essa gente que fica pouco tempo mas é capaz de deixar o Iraque, Afegenistão, Bósnia, Líbia, Somália como as deixaram? Porque temos que DIABOLIZAR OS NOSSOS LÍDERES TENDO ESSES COMO EXEMPLO?
São coisas pequenas, que de email em email fazem com que olhemos para África como o próprio inferno cheio de diabos, em contraposição com o outro lado onde moram os anjos.
As lideranças mundiais do presente e do passado têm os mesmos pecados que as nossas têm porém, com subtilezas como as do email que comento, vão nos fazendo acreditar que somos os tais podres, aqueles que fazem sempre o errado. (destaque e sublinhado meu)
Vamos lá mostrar que somos inteligentes. Este email de desculpabilização do meu email anterior já vai longo. Os dedos começam a fazer comichão para eu questionar sobre a essência do tribunal de Haia, onde qualquer Bush/Blair africano iria se só tivesse bombardeado coqueiros na Zambézia ou em Inhambane mas para onde o Bush/Blair americano/ocidental não vão apesar de tudo o que assistimos pela TV no Iraque e apesar de terem assumido que tudo aquilo foi causado por um equívoco. Queria eu ser o Charlles Taylor, Jean Pierre Bembá, o El Bashir e tantos outros e ouvir uma coisa dessas e não ver esses dois lá.... mas como já disse não vou comentar.
E, pelo que vi, muitos dos copiados neste email são jornalistas, escrevem e reproduzem com fidelidade o produto CNN sem nunca pararem para pensar nestas subtilezas. S
ejamos críticos... não repassemos ingenuamente emails, nem reproduzamos palhaçadas que só servem para minar a nossa confiança com as lideranças presentes e futuras dos nossos países (com muitos defeitos, muitos incapazes e vazios como os há lá do outro lado).
O juízo de valor que fizermos das nossas lideranças e das dos outros não pode centrar-se apenas no nº de anos do poder, tem que centrar-se nos seus feitos.
Email 4 (José Armando Estrela reencaminha para outros o conteúdo acima)
Email 3 (de Júlio Mutisse para José Armando Estrela e outros)
José,
Repassaste meu email acriticamente também. Os destinatários a que enviaste, das duas uma, ou vão pensar que estou coberto de razão (e não é isso que me preocupa) ou que estou sem ela (também não me preocupa muito).
O que quero é que não sejamos consumidores passivos de certas coisas, que sejamos críticos inclusive em relação ao que eu próprio digo abaixo.
Note que Angola aparece apenas como mote para esta questão já que não sou daqueles que pode falar com propriedade sobre o país.
Mas o exemplo de Angola multiplica-se um pouco por todo o lado em África e, nós como africanos, temos que poder ver para além do número dos anos (o erro nem está em 5, 10 ou 20 anos) mas se o povo se revê na liderança que tem e se esta (a liderança) responde os seus anseios.
Um abraço do índico. A cidadania faz se de pequenas coisas como essa.
HÁ OU NÃO?