Tem razão o Professor Lourenço do Rosário quando diz em entrevista ao jornal o País (edição fim de semana) “somos muito horizontais na abordagem das coisas, não somos capazes de ver as várias nuances de um mesmo problema”e que as pessoas “ouvem um determinado discurso; lêem uma determinada matéria; ou vêem um determinado acontecimento e apreendem como um todo. Não são capazes de partir isto e tentar analisar o quê compõe este todo e interpretar cada uma das partes, que é uma atitude normal para uma postura daqueles que querem ser analistas.”
Aliás, há muito que o também professor Elísio Macamo tem andado nesta cruzada no sentido de “identificar uma plataforma comum de discussão que não elimine as naturais diferenças de opinião que existem, nem as legítimas sensibilidades políticas que enformam essas diferenças.”
A horizontaliidade e até o extremismo referido pelo professor do Rosário, faz com que estacionemos no simplismo analítico e recusemos o aprofundamento de qualquer ideia que defendamos em público.
Tenho para comigo que, como subjaz da Lei, as autarquias visam organizar a participação dos cidadãos na solução dos problemas próprios das suas comunidades e promover o desenvolvimento local, bem como o aprofundamento e a consolidação da democracia. Já havia dito alguém que “os municípios constituem uma oportunidade de como cidadãos conscientes, criarmos um vínculo ao nível mais próximo (Municipal em contraposição ao Nacional) através do qual influenciamos positivamente a tomada de decisões com impacto nas nossas vidas, quer participando na tomada de decisões pelos mais diversos meios ao dispor (cartas, petições, audiências etc), quer, dentro da legalidade estabelecida, exigindo, por exemplo, maior cobertura e melhores serviços públicos dentro das áreas dos nossos municípios.”
Deste modo, qualquer candidato a presidência de um Município terá que ser uma pessoa conhecedora de todas as nuances em volta do referido Município. Mais ainda, ao candidato derrotado de um processo do género mais do que lembrar os problemas, deve apresentar soluções alternativas que, inclusive, possam apelar a consciência dos potenciais eleitores. Falo de alternativas.
São alternativas que o ilustre Samo Gudo não apresentou na entrevista que deu ao Magazine Independente. Aliás, mais do que isso, não foi capaz de analisar os problemas profundos da Matola como se exigiria de um líder partididário, candidato derrotado em eleições recentes.
Não estava a espera que Samo Gudo dissesse que todas as estradas estão um verdadeiro tapete; não estão. Não esperava que ele dissesse que o problema de lixo passou a história; nada disso. Alías, nem mesmo Nhancale e/ou qualquer membro do seu executivo alguma vez disse isso. Seria mentira. Para este e outros problemas, o que se exige é uma análise conjuntural e propostas de soluções viáveis a bem dos matolenses que, julgo, para Samo Gudo importam ou deviam importar muito.
Lembrou-nos este senhor a figura do saudoso Dr. Carlos Filipe Tembe e a sua obra. Qualquer matolense consciente não esconderá o apreço que se tem por esta figura e pelas boas coisas que fez ao longo do tempo que liderou a Matola. Para Samo Gudo, se Carlos Tembe fosse vivo e estivesse na direcção do Município da Matola, provavelmente, seria a face visível da dita curiosidade e da incompetência, até a julgar por alguns dos problemas que hoje imputa a Nhancale.
Apesar da estima que possamos ter por dirigentes anteriores, a honestidade deve nos permitir dizer que, nas últimas décadas, as nossas cidades (no geral) cresceram desordenadamente sem que fossem acompanhadas e ou antecedidas de uma planificação cuidada que inclua a provisão de serviços públicos básicos e essenciais para uma cidade que se prese e que queira ser sustentável.
Deve ter constatado isto o Nhancale que, no início do seu mandato, mandou parar o processo de regularização ou requisição de terra até a aprovação do plano de estrutura urbana que visa, até onde se sabe, corrigir a crescente desordem que se instalara na Matola. Para um membro de um partido com assento na Assembleia Municipal, verificar a operacionalização do já aprovado e homologado plano de estrutura é fácil; os relatorios devem estar disponíveis e os locais onde tal ordenamento deve estar em curso bem identificados. O que lhe custa consultar, visitar, confirma e até mesmo fiscalizar? Respondo: custa a maturidade que muita gente da nossa oposição polítiva não tem.
Sobre o lixo é bom que se diga: a situação ainda não está como todo o matolense gostaria que estivesse. Há bairros ainda não cobertos pelo sistema de recolha de lixo montado apesar de, os seus residentes, serem contribuintes activos para a famigerada taxa de lixo. Eu incluso.
Porém, há iniciativas que o Município desenvolve em função dos meios ao dispor. Os jornais em finais do ano passado andaram cheios de algumas dessas iniciativas que podem ser fiscalizadas por Samo Gudo e o Partido de que é membro e que tem assento na Assembleia Municipal onde são prestadas as contas sobre o desempenho municipal. Essas iniciativas são eficazes? Pode ser que do ponto de vista do executivo municipal sejam eficazes como é provável que do ponto de vista da Renamo e de Samo Gudo não estejam. É isso que temos que discutir: como reverter o cenário? Isso será feito considerando os pontos de vista que possam existir sobre o efeito e as soluções propostas. O que deve ser feito para tornar essas iniciativas abrangentes deve ser debatido inclusive a partir da oposição, dentro da ideia expressa acima de que os municípios constituem uma oportunidade de como cidadãos conscientes, criarmos um vínculo ao nível mais próximo.
Sobre os aterros improvisados de Infulene A e Malhampsene é evidente que são um problema. Já o eram quando Nhancale e o próprio Samo Gudo concorreram a Presidência do Município. Provavelmente, a ter ganho (hipótese remota), estes dois locais seriam um problema bicudo e um indicativo da “curiosidade” e, quiçá, da “incompetência” do Samo Gudo. Talvez Samo Gudo não saiba, a criação de um atero é um processo complexo que envolve estudos, planificação e meios financeiros de que a Matola carece. Isto para dizer que algo parece estar a ser feito para solucionar de evz os problemas criados nesses dois pontos sendo até público que o Município está a trabalhar na edificação do novo aterro em Matlhemele num espaço de 36 hectares; uma acção de continuidade dos planos que existiam dos governos anteriores. Aliás sobre continuidade, não vemos nenhum mal, pior seria criar descontinuidades e emperrar processos matar o desenvolvimento. E não é isso que se pretende e o “curioso” deve saber disso.
Grande parte dos quilómetros de estrada do Município da Matola são em terra batida. Chove que se farta e as estradas estão uma auténtica desgraça. Isso está claro; mais do que constatar isso é necessário propor soluções. Como sugere o Prof. Lourenço do Rosário na aludida entrevista, o desempenho de Nhancale neste pressuposto tem que ser avaliado a partir do que ele prometeu para o mandato, o que prometeu para cada um dos anos etc. a partir daí analisaremos o quê e onde é que se está a falhar. Se Nhancale tiver prometido asfaltar todas as estradas da Matola está a falhar redondamente e seria uma prova da sua “curiosidade e incompetência. “ Mas é claro que não prometeu isso.
A estrada IMAP Madjoni foi construida; está lá. Samo Gudo poderia visitar; estradas terraplanadas e asfaltadas reabilitadas abundam pelo Município que poderiam servir de amostra para Samo Gudo até para contrapor com aquelas que estão uma verdadeira desgraça propondo maior celeridade ou a redifinição de prioridades na abertura e/ou reabilitação dessas vias. Porém, exigir isso da Renamo e de Samo Gudo é pedir demais, a imaturidade e a necessidade de aparecer para não ser dado como morto fala mais alto.
Vejo com bastante preocupação quando a oposição é feita de lugares distantes; com base no que a imprensa transmite, dentro das suas limitações de cobertura e, inclusive, das suas linhas editoriais. Mais ainda neste pressuposto, há que contar com a seriedade dos jornalistas e o nível de “síntese” (para não dizer algo pior) que estes podem fazer. Seria interessante que Samo Gudo se munisse de informação, se embrenhasse por esta Matola e conhecesse os problemas e as soluções que estão a ser ensaiadas. Estou disponível para o guiar.
Se nos apartássemos dos telejornais e jornais impressos e fóssemos ver o sofrimento do povo e os esforços que estão sendo feitos pelo Governo Central, INGC, CVM e inclusive pelo Município da Matola, julgo que faríamos melhor figura. Onde se diz que Nhancale capitulou dia seguinte estava a trabalhar e a oferecer apoios a todos os níveis; onde as dificuldades eram extremas foram minimizadas com os parcos recursos que devem ter e até com o apoio de Municípios como Nampula em bens alimentares e vestuário anunciado nas celebrações do 39 aniversário da Matola onde, para não variar, nem Samo Gudo, nem a Renamo se fizeram presentes, se calhar, como sinal da sua PROXIMIDADE com a Matola.
Andemos, visitemos e falemos com conhecimento.