Quando em serviço ou lazer me vejo na condição de ter que sair dos centros urbanos para zonas com difícil conexão à internet, uma das coisas que mais falta me faz é o frenesim dos debates na blogosfera. Isso é assim porque aprendo muito por aqui.
Quando em meados de Fevereiro me embrei, de novo, para o Moçambique real, uma das coisas que mais se discutia em quase todo o lado era a violência doméstica cujo expoente, na altura, era um conhecido músico que, supostamente, espancou a esposa grávida de 8(?) meses.
Depois vieram as SMS's e os emails anunciando "um caso mais grave" de um conhecido empresário que espancou "gravemente" uma namorada (o que nos leva a concluir que era "namorada" e que não era assumida pelo tal empresário como verdadeira esposa?). Nos emails que publicitavam este caso, o que mais me intrigou foi a ênfase que se deu à qualidade de "colaborador" do Presidente da República ao referido sujeito.
Não sei ao que vinha esse facto quando, a questão fundamental, era a da violência doméstica. Fiquei sem saber se a qualidade de "colaborador" do Presidente da República por si só afastava o indivíduo em causa de qualquer desatino que desemboque em violência seja ela qual for. Mas isso não vem ao caso.
O caso é que, nos dois casos, as condenações vieram de todo o lado, o mediatismo de um tratou de tudo e a mediatização do caso do "empresário" funcionou como linchamento da sua personalidade, antes mesmo de um juiz, em sede de julgamento, sentenciar condenando qualquer um deles.
A opinião pública, num dos casos, com ajuda de quem deve defender a legalidade enquanto defensor da legalidade e dos direitos humanos, tratou de condenar o homem. É que a presunção de inocência é de lei; e não de qualquer lei.
Numa conversa durante o fim de semana, na minha condição de jurista, e aproveitando os ensinamentos que venho tirando da blogosfera, numa roda em que o caso do músico foi aflorado, aproveitei para questionar: vocês não admitem a hipótese de as coisas terem se passado diferentemente?
A resposta foi um NÃO redondo. Houve quem avançasse que houve um pedido de desculpas do dito cantarino. Foi se acrescentando que a minha condição de Homem, e por passar muitos tempos no Guijá, Chicualacuala, me impelia a entender o tipo e a tentar justificar as suas atitudes.
Perguntei de que é que o cantarino se tinha desculpado, se da violência ou das causas que levaram a tal. Ninguém me disse nada sobre a questão.
Inspirado pelos argumentos que se seguiram sugeri que não me cabia justificar a atitude do homem mas, também, era importante tentar perceber, o que o levaria a cometer aquele desatino. Simples antipatia pelas amigas? Simples capricho de a querer ver só? Será o indivíduo desiquilibrado a ponto de aquecer água para "aquecer" as amigas da esposa? Para não ser acusado de "justificador" e parcial avancei num sentido diferente do que certos Homens presentes avançaram afirmando:
(i) imaginem que, reconhecendo as fraquezas da carne o homem tenha dito a mulher: "querida eu te adoro mas, por favor, não traga estas suas amigas cá para casa se não vão nos criar complicações, a carne é fraca."
(ii) imaginem que, num desses dias, o homem volta depois de uma jornada de trabalho, encontra a sua querida esposa com "aquelas" amigas, vai para dentro de casa e, em reconhecimento de que a mulher está "nos últimos dias" de gravidez, como bom marido, prepara ele próprio a água para o banho.
(iii) imaginem também, que como bom esposo, ele chama a esposa e lhe chama atenção da conversa havida dias antes sobre "aquelas" amigas, e esta se exalta e profere palavrões, por exemplo do género, "ainda que fosses homem".
(iv) o tipo irado com aquelas palavras, e com a desobediência da mulher com relação ao assunto "daquelas" amigas, não se controla e dá 1, duas, bofetadas a esposa (reparem que o bebé nem estava em risco o que significa que o espancamento foi cirúrgico).
(v) imaginem que "aquelas" amigas, sejam daquelas que não respeitam a ideia de que em "briga de casal não se mete colher" intervenham e "caiem em cima" do pobre moço, que impotente perante a ira, para se defender do ataque feroz da turma, recorre à panela com a água que se destinava ao seu banho e joga na direcção daquelas amigas.
Se pensássemos assim a conclusão seria a mesma? O que se seguiu foram tentativas de justificação.
Não digo que as coisas se possam ter desenrolado assim, mas porque corremos logo para diabolizar o homem sem, antes, pensarmos que as coisas podem não ser como as amigas contaram? Porque não se colocar no lugar do tipo e acreditar que ele não seja maluco para, do nada, proibir amizades da esposa, aquecer água e deitá-las etc?
Não se trata de tentativa de justificação da violência cometida (que é condenável sempre) mas, uma chamada de atenção para não corrermos para condenações quando dispomos de poucos dados e só conhecemos a história de uma lado e nem se quer estamos preocupados com o que pode ter acontecido e com o que pode ter levado àquela situação.