segunda-feira, 23 de junho de 2008

Cartas abertas: Mais Uma, Xenofobia

Interessante….

Sensibiliza. Oxalá seja entendida pelos seus concidadãos porque, de facto, é interessante!

Para onde iremos quando a África do Sul estiver destruída?

Houve uma altura na minha vida em que procurei desesperadamente uma empregada doméstica porque não conseguia dar resposta ao trabalho, ao bebé e às tarefas domésticas.

Dirigi-me ao quadro de anúncios de uma loja de conveniências da vizinhança e anotei alguns contactos. Telefonei a um certo número de mulheres e marquei encontros com seis.

Uma delas, sul-africana, não apareceu, mas mandou-me um kolmi. Quando lhe liguei, perguntou-me se podia ir buscá-la, porque não tinha dinheiro para o transporte.

Disse-lhe que outras cinco mulheres, que não eram sul-africanas, tinham conseguido chegar a minha casa à hora marcada. Uma delas até veio com uma criança às costas, na neneca.

Esse episódio, entre muitos outros, mostrou-me claramente que nós, sul-africanos, achamos que temos direito a tudo. Achamos que o mundo nos deve alguma coisa.

Isso é sobretudo verdade para os negros. Não me levem a mal, mas, directamente ou indirectamente, pensamos que o apartheid é uma coisa a que nos podemos agarrar para podermos ser vistos como vítimas, e que tudo nos devia ser facilitado.

E aqui estamos nós, 14 anos após o início da democracia na África do Sul, ainda agarrados a 1976.

Muitos de nós não conseguem aproveitar o acesso à educação nem a oportunidade para aprender mais e marcar a diferença. Por isso abusámos de pessoas que estão simplesmente a fazer os possíveis por ganhar a vida.

Os recentes ataques contra estrangeiros são a prova de que somos uma nação estúpida.
"Roubam-nos os empregos e violam-nos as mulheres", dizem os responsáveis por centenas de crianças inocentes estarem agora a viver em tendas com as famílias.

Como é que alguém pode tomar em mãos o seu destino quando os sul-africanos, no velho estilo dos bairros negros, se sentam todo o dia a apanhar sol, na má língua e a queixarem-se dos estrangeiros que lhes roubam os empregos?

Como é que uma pessoa que se esforça tanto por arranjar emprego e por exercê-lo bem merece ser espancada e até queimada?

Não percebo como fomos engendrados como sul-africanos. Sei que não temos todos a mesma mentalidade, e que há cidadãos instruídos que são completamente opostos a tais actos. Mas a rapidez com que esses ataques se espalharam é uma vergonha nacional.

Porque é que não participamos de forma tão rápida e colectiva em actividades de construção nacional? E porque estamos tão dispostos a participar quando se trata de coisas que não só destroem vidas humanas como também a economia e a credibilidade do país?

Dizemo-nos uma nação civilizada? Tenho vergonha de ser sul-africana.

Somos uma nação bárbara, e o nosso pior pesadelo.

Pergunto-me o que acontecerá quando finalmente atingirmos o objectivo de arruinar por completo o país - a economia, a credibilidade e os valores sociais - e precisarmos da ajuda dessas mesmas pessoas que andamos a matar.

Será que esperamos que esses países cuidem dos nossos filhos como fizeram no tempo do apartheid para regressarem à África do Sul como dirigentes instruídos, sábios e capazes?

Ou será que esses países também têm o direito de espancar os nossos filhos, de os queimar vivos e de os escorraçar como se fossem criminosos?

NOMFUNDO XULU

In The Times, 26/5/2008

Cartas abertas: Mais Uma

Esta é mais uma carta que tem circulado via email apelando à reflexão e a mudança de atitude por uma país melhor. Achei interessante trazê-la aqui.

Pertenço a um País, o País do Chiconhoca.

A crença geral anterior era de que Samora não servia, bem como Chissano. Agora, dizemos que Guebuza não serve. E o que vier depois de Guebuza também não servirá para nada.

Por isso, começo a suspeitar que o problema não está no DEIXA ANDAR de Chissano ou na farsa que é o NÃO DEIXA FAZER de Guebuza. O problema está em nós! Nós como povo! Nós como matéria-prima de um País!

Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o Dólar.

Um País onde ficar rico da noite para o dia é uma "virtude mais apreciada" do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um País onde, lamentavelmente, os Jornais jamais poderão ser vendidos como em outros Países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só Jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.

Pertenço ao País onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos...

Pertenço a um País onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo ou da DSTV, onde se frauda a declaração de IRPS e IRS para não pagar ou pagar menos impostos.

Pertenço a um País onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde os Directores das Empresas não valorizam o capital humano que tem antes pelo contrário os exploram. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do Governo por não limpar os esgotos. Onde as pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica.

Onde os nossos Políticos trabalham dois míseros dias por semana para aprovar Projectos e Leis que só servem para caçar mais os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns que já sabemos quem são.

Pertenço a um País onde as cartas de condução e as declarações e atestados Médicos podem ser "comprados", sem se fazer qualquer exame.

Um País onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no machimbombo, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar-lhe o lugar.

Um País no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um País onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos Governantes.

Quanto mais analiso os defeitos de Chissano e de Guebuza, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.

Quanto mais digo o quanto o Samora é culpado, melhor sou eu como Moçambicano, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um Cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.

Não! Não! Não! Já basta!

Como "matéria-prima" de um País, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que nosso País precisa! Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE MOÇAMBICANA'"congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos escandalosos na Política, essa falta de qualidade humana, mais do que Samora, Chissano ou Guebuza, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são Moçambicanos como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte...

Fico triste! Porque, ainda que Guebuza fosse embora hoje mesmo, o próximo que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa
fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.

Nem serviu Samora, nem serviu Chissano e nem serve Guebuza, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa?

Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa! E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados... igualmente abusados!

É muito bom ser Moçambicano. Mas quando essa Moçambicanidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda... Não esperemos acender uma vela a todos os Santos , a ver se nos mandam um Messias. Nós temos que mudar!! Um novo governante com os mesmos Moçambicanos nada poderá fazer! Está muito claro... Somos nós que temos que mudar! Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a nos acontecer: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso.

É a indústria da desculpa e da estupidez!

Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido.

Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO. E você, o que pensa?.... MEDITE!